Super-herói





         Nem sei dizer com qual dos meus super-heróis ele se parecia. Entre tantos da minha infância como Fantasma, Mandrake, Zorro, Flash Gordon, Superman e muitos mais, mas com uma diferença: ele estava lá ao meu lado, dormíamos no mesmo quarto, não me deixava acender as luzes depois que estivesse dormindo, me protegia das investidas dos meus irmãos mais velhos quando queriam se prevalecer dos seus tamanhos para obterem alguma vantagem numa pelada no nosso quintalzinho. Admirava-o também pelos seus amigos que frequentavam a nossa casa, pois entre eles havia um jogador de basquete de um clube da capital, um cara que tocava pistão com surdina, um pianista, outro que era cego e tocava acordeom, um artista plástico, mais um que jogava pelo time do Nosso Clube, entre tantos.

        Mais tarde, foi se aventurar pelo mundo e começou a trabalhar no Aeroporto de Viracopos na Panair do Brasil. Eu então, fruto da minha imaginação, contava aos meus amigos que ele sempre andava naqueles aviões glamourosos da empresa como o Constellation, DC3, DC7, Caravelle. Algumas vezes trazia pôster deles e eu usava para aumentar minha exibição ao pessoal da rua. Mais tarde, já casado, lançou seu primeiro livro de crônicas “Sonho da apressar primavera” e eu passei a ter, agora, um irmão “escritor” e ele durante toda a minha juventude nunca deixou de me incentivar (e até cobrar) à leitura de livros, indicando os principais autores, as melhores publicações.
         Quando eu estava na faculdade, nos aproximamos mais ainda em virtude de uma nova paixão: o Independente (o nosso Galo da Vila da vila Esteves) então nós dois passamos, quase todos os domingos, a assistir os seus jogos, seja no Pradão ou nas cidades próximas. Devido a esta assiduidade, fomos convidados a comparecer numa assembléia geral do clube para ajudar a escolher uma nova diretoria e não é que ele quase caiu da cadeira quando o Quinha (da Flecha Azul) levantou-se, pediu a palavra e indicou-o para liderar a agremiação.

        Fanático são-paulino mexia com todo mundo na Varga onde trabalhava, principalmente quando por muitos anos o tricolor ganhava tudo e não deixava nenhuma taça para os adversários. Por sua posição lá, nenhum subalterno ousava dar o troco às suas investidas e estavam esperando sequiosos por uma oportunidade para dar o revide. Até que surgiu quando um dia, eu estava de férias na praia, nos tempos em que se comunicava apenas pelos orelhões, resolvi ligar para ele tirando um sarro sobre minha mordomia. Como ele não estava na sala, após o meu recado, os colegas esperaram a sua volta e quando ele chegou foram logo o informando antes de caírem na gargalhada: - Sr. Sillas seu irmão ligou aí e perguntou se o senhor pode ajudá-lo a decidir sobre qual cerveja pedir na barraca de praia em que ele está. Se Brahma ou Skol?

        Recentemente ele compareceu ao lançamento do meu livro de crônicas “Jogando a conversa fora”, o qual ele prefaciou, lá na sede do CPP, numa cerimônia simples, mas aconchegante. Dava para ver estampada em seu rosto a alegria de ver o seu irmão também se tornar um “escritor”, como ele fora para mim, pelo que ele teve direta participação com o seu incentivo.


         Ontem, aproximei-me, junto com os outros irmãos, para levá-lo ao seu caminho e me preparei para fazer uso das minhas forças, mas não foi preciso, Alguém se antecipou e com certeza carregou-o para junto Dele.




Sérgio Lordello


Comentários

MaRy disse…
Linda história. Hoje ele descansa ao lado do Pai. Meus sentimentos!
Luiz Ricardo Bastos disse…
Linda cronica Sergio. Com certeza, além de uma grande referência, um baita irmãO. Pena que não tive o prazer de conhecê-lo!
Unknown disse…
Lindo, muito obrigada! Chorei!������������������������❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️
Denise disse…
Tocante, Sérgio! Tive o prazer de conviver com Sillas e sua família, são pessoas especiais!

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