E se eu morrer amanhã???


       Tomara que esse amanhã seja uma sexta-feira, pois assim saberei que todos os meus amigos estariam alegres pelo final de semana e não se assustariam tanto com a notícia. Por favor, não quero nem um pouco de tristeza pois vocês sabem que tirei da vida o que ela teve de melhor a oferecer, não perdi tempo em acumular riqueza, não me lamentei por escolhas indevidas que possa ter feito, vivi intensamente cada fase dela e ainda, até ontem, estava fazendo exatamente isto. O que mais desfrutei neste meu caminho foram as amizades, de todo tipo e jeito, principalmente as de boteco, mas circulei também entre intelectuais, professores, apreciadores da culinária, alunos (que alimentaram minha gana de viver), ribeirinhos da Cascata, amores, jornalistas, engenheiros, até com políticos, mas apenas os sérios.


       Quando forem ao meu velório, procurem por um painel com fotografias minhas de momentos importantes relatando como foi a minha vida, todas com pessoas sorrindo, brindando, comemorando. Possivelmente vocês estarão em algumas delas, verão também muitas com amigos que certamente estarão me esperando lá em cima para, talvez, me darem boas-vindas. Podem passar o tempo todo contando piadas, falando mal dos outros, não se acanhem em ir ao boteco da esquina tomar umas mas não esqueçam de servir um copo em minha homenagem, vou apenas exigir de cada um que reserve um tempinho para relembrarem de momentos que passamos juntos e verão que aquele é um instante para celebrar a vida e jamais chorar a minha morte.


       Provavelmente a turma do Cotil vai se recordar de quando atiramos as tuviras (iscas) do Marcão no tobogã da piscina da pousada para a molecada brincar, já o Jacques lembrará do dia que seu irmão ralou uma mandioca no caldeirão de feijoada que havíamos preparado para degustarmos no almoço lá no Broa.  Os sobrinhos recordarão dos passeios de trem que todos os anos fazíamos para cidades vizinhas quando eram crianças, já com as turmas do Barzão e do Bar do Toco os momentos foram muitos para rememorar em tão pouco tempo.


       Gostaria que o Flávio, em todo aniversário da minha morte, assim como faz com o Joca, levasse duas latinhas cerveja lá onde forem espalhadas as minhas cinzas e faça um brinde à nossa amizade, já a Andréa espero que nunca se esqueça que fui na sua aposentadoria fantasiado e maquiado de Pierrô, também a Yasmin, minha neta, que se assustou quando me viu de palhaço em um de seus aniversários. Já aos que por acaso magoei ou causei algum prejuízo, peço desculpas, nunca foi esta a minha intenção.
       Mais tarde se por acaso forem falar de mim para outras pessoas, podem dizer: “ele foi meu amigo, viveu sabendo que um dia ia morrer e morreu como quem realmente soube viver” (adaptado da poesia de Vinicius de Morais).




Sérgio Lordello


Comentários

Anônimo disse…
Meu amigo Sérgio, sua maneira de falar sobre a vida, sobre a amizade e, principalmente, sobre o "futuro", torna a nossa vida mais vibrante, mais fácil de ser aproveitada sob todos os aspectos morais, espirituais e sociais. Um forte abraço.

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