Exame da próstata

Publicado em 01/2011 - Jornal de Limeira e no meu primeiro livro "Jogando a conversa fora"



       Sei que elas sempre vão argumentar que o Papanicolau é muito pior do que um exame de toque da próstata. Mas o que elas não entendem é que é muito difícil para nós homens acostumarmo-nos com a ideia deste exame. Desde criança nos foi ensinado que “homem não chora”, que precisamos ser corajosos, não ter medo de nada, não levar desaforo para casa. E chegando perto dos quarenta anos já começam as cobranças, dizem está chegando a hora; os amigos mais velhos perguntam; a mãe começa a insistir e, na hora que nossas esposas questionam então, não tem mais jeito.

       Normalmente elas se antecipam e agendam a consulta. No dia, cabisbaixos, lá vamos nós para o “sacrifício”. Logo na chegada, o consultório lotado e parece que todos nos observam. Percorremos cada semblante, rezamos para não encontrar nenhum conhecido e agradecemos que a atendente não questione nada, a não ser os dados do nosso cadastro. Daí então, procuramos o lugar mais escondido do local, de preferência atrás de um pilar qualquer. De repente o nosso nome é chamado, parece que a enfermeira fala com um megafone na mão para todo mundo ouvir e lá vamos nós.

       Agora, sem citar detalhes do que acontece lá dentro, o que não interessa no momento, em dez minutos o exame está consumado. Depois de despedirmo-nos do médico, temos que passar pela sala de espera novamente. Que tortura. A impressão que temos é que todos os pacientes lá só tem uma pessoa para olhar: nós. Aquela senhora sisuda que não nos cumprimentou na entrada, agora tem um sorriso enigmático no rosto e o pior ainda está por vir: o nosso companheiro de trabalho, gozador da pior espécie, está lá agora e pergunta em alto e bom som: “como foi o exame da próstata?”.
       Nós miramos a porta de saída e não enxergamos mais nada. Quando tocamos na fechadura, a secretária nos chama de volta para devolver a carteirinha do convênio e a guia do exame de PSA. Ufa, acabou. Mas ainda não. Lá fora o flanelinha nos conforta com seu espírito de solidariedade:

       - Não se preocupe doutor, a primeira vez é assim mesmo!
       Depois desta prova de fogo, tudo fica mais fácil. Em poucos anos nos tornamos veteranos no assunto, passamos a dar conselhos, incentivamos os novatos, questionamos os resistentes à ideia. Até brincadeiras fazemos com os outros sobre mandar rosas, o fato do médico não enviar recados e etc. O meu médico anualmente manda um email lembrando-me da necessidade de fazer o exame novamente. Pois bem, dentro do espírito gozador, repassei o texto para os amigos mais chegados, com uma observação minha: “Olha que meigo”.

       Mas alguns ainda resistem. Felizmente é uma minoria e que tende a desaparecer. Com o tempo e com a insistência dos colegas e dos familiares, cada um vai vencendo este preconceito. Lá no Cotil tem um deles, mas nós já prometemos que deste ano ele não escapa, nem que tenhamos que marcar uma consulta para todos nós o levarmos.
       Ele também, se quiser, pode usar a estratégia do Paulo: levar a esposa  junto para dar apoio moral. Fico imaginando a cena: ele deitadinho na maca, na posição, de mãozinha dada e ela confortando-o.


Sérgio Lordello

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