Eu e minha mulherada



       Não é nada do que vocês estão pensando. Meus planos quando jovem era casar, ter filhos homens e mulheres, eu levando os moleques no campo de futebol, no bar tomar uma cerveja, no rancho junto e as meninas sob os cuidados da mãe, com as prendas femininas, cabelereiros, maquiagem, igreja. A primeira grande modificação no meu comportamento machista foi que hoje só faço xixi sentado, pois era um tal de reclamações de todos os lados se a tampa do vaso ficasse levantada, então para não ver cinco caras enfezadas comigo, aderi.

A mais velha ainda teve que aguentar o meu lado masculino já que, desde criança, eu a levava na garupa da moto, jogava-a do trampolim da piscina, as vezes me acompanhava no boteco, eu na cerveja e ela tomando Gini, acho até que foi por isso que adquiriu uma certa destreza na sinuca, muito maior que a minha. Quando jovenzinha, o primeiro namorado veio buscá-la no portão de casa, parou na frente, deu uma buzinadinha e ela saiu toda produzida, linda, o portão de correr abriu e eu joguei uma daquelas bomba “ninja” fazendo aquele cogumelo enorme de fumaça. Sei não, mas ele nunca mais apareceu por aqui.

       A segunda já era toda delicada, charmosa, cheia de dengos, mas para conseguir suas coisas não economizava na sua meiguice até atingir seus objetivos. Só tinha um problema muito sério para mim, quando voltava da balada, madrugada, eu assistindo a tevê com apenas um olho aberto de tanto sono e ela queria descrever toda a noitada em detalhes e me chacoalhava para eu não dormir. Olha, não foi fácil. No seu casamento agora recente, foi enrolando a mãe e eu e fez uma cerimônia linda, numa chácara, cheia de caprichos, do jeito que queria. Até me convenceu, junto com sua irmã, a cantarmos uma música em plena cerimônia cheia de pompa e circunstância. Quase morri de vergonha.

       Não contente ainda, o destino me enviou mais duas mulheres como minhas netas. Daí a coisa ferveu mesmo, pois com elas, sem a responsabilidade dos pais, a gente se entrega totalmente: faz todas as vontades, brinca com seus brinquedos, serve de modelo para investidas na maquiagem, experimenta as suas receitas, ajuda nas fantasias. São companheiras nas viagens, nas idas para o rancho, nas compras em shopping. Com essa mulherada toda, tornou-se do meu cotidiano ser motorista de Uber indo buscar e levar para escola, trabalho, na casa das amigas, no inglês, nas aulas de ginástica, nas baladas, na casa do namorado. Hoje sei a marca preferida do shampoo, do condicionador, desodorante, sombra, rímel de cada uma delas e se duvidar até no tipo de absorvente delas. Dias atrás me transformei também no acompanhante da primeira neta no dentista para extrair seu dente (“Vô, você me leva né?”), ou numa consulta médica, exame de endoscopia.

       Agora, para me agradar, elas me deram um animal de estimação para me fazer companhia no rancho: uma cachorra..........ah, não!!!!!!!!



Sérgio Lordello

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