Um lugar sem alma
Esta é uma reedição do artigo de nome acima de novembro/2010, publicado no Jornal de Limeira. Ontem, finalmente através de um processo democrático alunos, funcionários e professores do Colégio Técnico de Limeira - Unicamp, terminaram com uma etapa de opressão, perseguições e conchavos para se manter no poder que permanecia por um longo tempo.
Um lugar sem alma
A crônica abaixo foi inspirada no trecho de um discurso
de Rui Barbosa, tão atual, que diz: “de tanto ver triunfar as nulidades, de
tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da
virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
- É verdade minha amiga, está tão triste
aquilo, tão cinza. Em seus corredores eu vejo pessoas, ouço ruídos, mas sinto
que aquele não é mais o meu lugar. Quisera que os tempos fossem outros, pois
então estaríamos todos juntos traçando planos, buscando soluções, procurando
alternativas.
Hoje eu caminho ali, mas meus passos me
levam para ambientes aos quais eu não quero mais frequentar, que não quero
saber que existem mais, pois podem me fazer desacreditar das pessoas.
Tento ainda, minha amiga, pensar que um dia a luz
voltará a brilhar, que o vento refrescante das manhãs levará para longe os
restos deste pesadelo. O sonho de acreditar nos homens ainda me faz ter um
resto de esperança, mas eu sinto que a cada dia a drenam um pouquinho de mim.
Parece que eles não deixam acontecer tudo de uma só vez. O fazem em doses homeopáticas
para que a gente assista os indivíduos nos quais confiávamos, gradativamente,
terem comportamentos nos quais jamais acreditaríamos que iriam ter.
Uma vez, minha amiga, você os definiu
como ardilosos, mas na verdade acredito que o que eles não têm mesmo é alma. Eles
se apossam das coisas, se justificam e envolvem as pessoas numa trama astuta somente
para manter o poder a qualquer custo.
Mas mesmo as pessoas sem alma sabem
distinguir o errado do que é certo, do que é ético, justo, nobre e o nosso
papel lá é exatamente este: lembrar-lhes sempre, a todo instante, que o bem
ainda está presente. Pode acreditar que ainda há pessoas que conhecem esta
diferença e que elas permanecem lá para que eles não esqueçam que um dia, com
certeza, alguns dos seus entes lhes ensinaram o caminho do bem, mas que eles os
renegaram.
Tenha a esperança, minha amiga, que um
dia destes as cores voltarão a brilhar, o sol entrará pelas janelas, o grito da
liberdade ecoará em todos os seus recantos e essas pessoas se arrependerão das
coisas que fizeram. Chorarão pelas flores que arrancaram dos nossos jardins,
pelas músicas que arrebataram das nossas gargantas e nós, com nosso jeito
simples de ser, ainda lhes estenderemos as mãos para que aprendam o que é o
perdão.
Sérgio
Lordello
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