A Pec do teto lá em casa




        Este fim de semana o bicho vai pegar lá em casa. Com o salário congelado, os preços subindo e as despesas crescendo, montei uma apresentação no PowerPoint e no Excel mostrando todas as contas da família e propondo uma espécie de PEC do teto dos gastos familiares. Os cortes devem ser definidos neste final de semana, com todos os membros com direito a voto. Só lembrando que somos seis (par): pai, mãe, duas filhas e duas netas, mas vamos anexar o voto de um “agregado” que está pretendendo entrar para a família como desempate.

        As pequenas são contra a diminuição das verbas do presente de Natal e das festas de aniversário e, por isso, vão à votação, vestidas de preto e com mascaras cobrindo o rosto tipo “black bloc”. Já as filhas não querem abrir mão das férias na praia e entraram com apelações à avó delas para que me pressionasse a aumentar o teto nestes quesitos. A esposa não comprou uma TV Smart na Black Friday e agora está preocupada em ter que adiar este desejo para sabe lá quando. Já o futuro genro está incomodado com o fato de os churrascos só serem feitos, a partir de agora, somente em datas muito especiais.

        Então, diante destes descontentes, prevendo uma derrota na assembléia de domingo, adotei algumas estratégias que espero que mudem o panorama do jogo. Propus que as férias sejam aumentadas no prazo, mas sejam transferidas para a praia da Broa, na casa de um velho amigo que tem até um pedalinho lá para aproveitarmos (tipo 0800). Com as netas prometi que pelo menos as mesadas seriam preservadas e corrigidas pela inflação do ano anterior. Agora difícil está negociar a desistência da compra da TV, mas fiz uma contraproposta e estou esperando a resposta: com os pontos acumulados no cartão de crédito dá para comprar duas passagens aéreas para Porto de Seguro na época da baixa temporada. Já estou imaginando nós dois na Passarela do Álcool dançando lambada.

        Sei que nosso regimento prevê que tal PECM (projeto de emenda à constituição matrimonial) seja votada em duas sessões espaçadas de uma semana, mas como ela precisa estar aprovada antes do Natal, quando a 2° parcela do 13° ainda não foi consumida e como os representantes não leem o regulamento, faremos o pleito apenas no domingo, na reunião familiar habitual.
        Mas devo admitir que os dados mostrados na planilha tenham algumas alterações, tipo “meia- verdades”, que distorcem só um pouquinho a realidade dos fatos, pois senão como cancelar a happy hour no Barzão, ou os lanches no Bar do Toco, ou ainda as pescarias no rancho. Assim não há homem que aguente.






Sérgio Lordello

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