Rudolph e eu
Rudolph era uma rena que sofreu um pequeno acidente quando
era criança e a ponta de seu nariz passou a emitir luz vermelha sempre que uma
situação diferente aparecia. Seu maior desejo era um dia puxar o trenó do Papai
Noel, oportunidade que só apareceu quando o voo natalino num determinado ano
foi ameaçado por uma tempestade de neve e ele então teve a grande chance de
salvar o Natal.
Já eu, tenho também um nariz vermelho, igual aqueles de
palhaço, guardado no fundo de uma gaveta de meu armário para uso em ocasiões
especiais, principalmente aquelas em que são geradas por atos que afrontam a
ética, a cidadania, os direitos das pessoas, ou as que frustram a esperança e a
crença de uma maioria. Usei-o algumas vezes na escola em que lecionava quando a
ganância por quem tinha o poder nas mãos utilizava métodos nada republicanos
para mantê-lo. Também cheguei a utilizá-lo na Prefeitura quando um dia, após
minha equipe e eu, termos elaborado arduamente uma proposta inovadora e ver a
mesma ser rejeitada pelo prefeito por motivos inexplicáveis.
Mas, até então, poucas vezes me utilizava de tal recurso para
demonstrar a minha indignação diante de um fato, mas hoje a frequência é tanta
que me sinto um verdadeiro Rudolph, permanentemente com o nariz vermelho, mas
desorientado para achar um caminho que me devolva à esperança. O pior de tudo é
que todos nós sabemos que as pessoas citadas já demonstraram claramente quais
são as suas intenções ao exercerem seus mandatos.
Por exemplo, o Sarney, muito
mais de meio século lá, ex-presidente da Republica, n vezes no senado, sempre
ao lado do poder, com sua família mandando no Maranhão, dono da maioria das
praias ao redor da capital e todo o seu fiel eleitorado subjugado por este
poder, sem uma educação adequada, sem segurança, sem um sistema apropriado de
saúde, numa pobreza de dar dó. O mesmo se pode dizer de Renan, já que seu
Estado apresenta os piores índices de qualquer estatística positiva elaborada
no país.
O que me assusta mesmo são as nuances jurídicas, os
subterfúgios que utilizam para mascarar as verdades. Nada melhor nisso que o
Cunha que se atêm as vírgulas, aos
pontos, a fragilidade moral de colegas, para driblar a justiça, seja nos
prazos, seja para aliviar uma possível condenação.
E não pense que é privilégio apenas dos que estão em
Brasília, parece que é inerente à classe política, está no genoma deles, pois
até na nossa cidade tem pretenso candidato utilizando-se de uma falha jurídica
na elaboração de seu processo de cassação como salvo conduto para os seus
desvios, como nos nossos tempos de criança quando nossos pecados ditos num
confessionário limpavam a nossa consciência.
Sérgio Lordello
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