As rosas também falam
Sérgio
Lordelo
Cronica
do livro do autor: “Jogando a conversa fora” -
Fica difícil para nós homens entendermos
o que se passa dentro de uma loja de roupas femininas. Vejam bem: elas ficam lá
dentro, a maioria das vezes, mais de duas horas para comprar apenas uma
blusinha. Algumas delas passam por lá todos os dias, nem que seja apenas para
tomar um simples cafezinho. Se brigarem com os filhos ou qualquer outra
desavença dentro de casa, têm que passar por lá e comprar, nem que seja apenas
uma presilha de cabelo. Troca de carro, discussão com a sogra, um quilo a mais
ou a menos no peso e, principalmente, por alguma negligência nossa, como
maridos, são motivos mais que suficientes para uma visitinha.
Na loja da minha esposa, por imposição
delas, homem não entra. No máximo até o caixa para pagar as contas e olhe lá.
Eu então, nem da porta posso passar. No entanto, por força do ofício, um casal
de representantes se fazia regularmente presente para apresentar as novidades,
os lançamentos e as tendências para a próxima estação. Era um casal jovem,
bonito, alegre e, apesar de casados já há alguns anos, demonstravam muito
carinho um para com o outro. Falavam dos jantares que faziam a dois, dos
barezinhos que frequentavam e das boates em que dançavam. Coisas só de recém-casados.
Elas ficavam encantadas com os relatos e
quem levava sempre a pior éramos nós, os maridos. Como podíamos ser tão
insensíveis, tão descuidados, tão relapsos?
Pois bem, como devedor confesso dos meus
deveres de marido, quis fazer uma homenagem especial a minha esposa no dia do
seu aniversário. Pesquisei, perguntei, procurei algo que pudesse me redimir de
tanta negligência, até que descobri.
No dia, em plena tarde, a loja repleta
de clientes, ainda por cima durante uma “promoção”. Pessoas buscando roupas,
gente pagando, outras no vestiário, muitas esperando a marcação das peças.
Coincidentemente lá estava também o casalzinho, ele dando palpites nas escolhas
dela.
Então, inesperadamente, entrou o Sérgio
Gabriel com um buquê de rosas vermelhas na mão, daquelas colombianas, enormes. Abriu
a sua maleta, montou o saxofone e iniciou um lindo concerto de músicas
românticas em homenagem à aniversariante.
Foi um momento em que não se entendia
o que estava acontecendo: umas choravam, outras suspiravam, algumas
boquiabertas e até alguns gritinhos de histeria foram ouvidos. Então alguém deu
por falta do casal e ao procurá-lo, encontrou-o do lado de fora da loja e viu
uma cena insólita: ela com o dedo em riste dando uma dura nele por nunca ter
feito algo parecido. Depois deste episódio, o casal voltou algumas vezes, mas
não falou nunca mais de suas peripécias amorosas.
E eu me senti o próprio vingador de
todos os maridos.
Sergio Lordello
professor
Comentários