O patinho feio
Não é da fábula de Hans Cristian Andersen que eu estou
falando, mas da pedra no sapato que apavora todo o prefeito: a pasta de
trânsito e transportes no seu município. É um assunto que todos os cidadãos
pensam que entendem, adoram dar palpites, sempre tem uma solução melhor e
qualquer modificação, por menor que seja, gera uma avalanche de reclamações dos
cidadãos que deixam aterrorizado quem está no poder. Cabe a ele, então, se
resignar com o encargo usando a sua capacidade de convencimento e liderança ou,
simplesmente, deixar como está.
Certa vez colocamos mão única na Rua Cunha Bastos, sentido
bairro-centro, antes da Praça Adão Duarte. Mas lá morava (até hoje) o Osvaldo
“Turco”, boa gente, amicíssimo do prefeito, de frequentar a casa, o gabinete,
pegar carona, então você deve ter percebido a intensidade de reclamações no
ouvido do prefeito pelos dois ou três quarteirões aumentados no seu percurso
diário de volta para casa. O chefe, intrigado com a situação, muito sábio,
convidou-se para uma “quibada” na casa do Osvaldo e, de lambuja, me carregou
junto. Lá chegando colocou-nos frente a frente dizendo que só iríamos
experimentar as iguarias depois de um acordo. E foi o que aconteceu depois dele
entender a importância da alteração para a população.
Outra ocasião na Av. Maria Buzolin, na época com alto índice
de acidentes, com várias mortes seguidas. Propusemos uma grande alteração com o
que os comerciantes do local se rebelaram, ainda antes da efetivação, e várias
reuniões foram feitas para chegarmos num acordo em que os interesses deles e da
engenharia de tráfego foram satisfeitos, sem causar transtornos para a
população. Mesmo assim um vereador, inconformado em não poder fazer certa
conversão, convocou-me para depor numa Comissão na Câmara Municipal.
Já a dona Maria, na esquina da João Machado com a Bahia,
queria deitar-se na frente do trator que ia mudar o ponto de ônibus da esquina
de cima para a dela. Cheguei lá com meu pessoal e encontrei metade dos
pacientes da Santa Casa observando, duas viaturas de Policia Militar, todos os
seus vizinhos e algumas corolas de um templo próximo. Negociamos por mais de
uma hora dentro da casa dela e chegamos a um acordo. Algumas semanas depois
passei lá e ela havia montado um carrinho de lanches na sua área e atendia os
usuários de ônibus. Uma visão empreendedora com certeza.
Voltando aos tempos atuais, a visão tacanha do prefeito em
tentar extinguir a Secretaria da Mobilidade Urbana custou duas perdas grandes ao
seu próprio exército: a fritura desnecessária da secretária anterior e a perda
de alguém da sua confiança para só ocupar o espaço até o final do mandato.
Sérgio Lordello
Professor
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