O dia do diamante negro
Wilson
Roberto Pereira – Wilson “Bauru”
Autor
de três livros:
- O dia do diamante negro
- Seguindo em frente
- Falando sério
Dia de verão dos mais pesados, ano de 1982, em Campinas-SP.
O local: sede da Transo – Transportadora de Óleos Ltda, na
parte superior do prédio da Av. Santa Izabel, em Barão Geraldo, onde exercia a
função de diretor administrativo.
Os funcionários todos já haviam saído para o almoço. Só
deveriam retornar entre 13:15 e 13:30 horas.
No térreo do prédio funcionava uma lanchonete com o nome de
“Baco & Glutão”, onde se homenageava com todo o entusiasmo os dois.
Principalmente o primeiro...
Antes de sair, a costumeira “parada técnica” no bar, onde
certamente pela própria “atmosfera” do ambiente, ocorreu a ideia de aprontar
mais uma com as meninas. Pedi um
chocolate Diamante Negro, principalmente por ser crocante – característica que
deveria melhorar a performance do
plano.
Ao invés de continuar o caminho para casa, voltei ao
escritório, já com o chocolate desembrulhado, apertado na mão direita,
esperando que amolecesse o máximo possível.
Direto ao toalete das meninas, ao vaso sanitário. O trabalho
começou por sujar com três dedos os azulejos que ficavam logo acima do acento, à esquerda do vaso.
Na continuação, o trabalho consistiu em sujar a parte
interna da bacia, até a borda, continuando na parte externa do assento, onde
foi limpa com a palma da mão.
Verdadeira obra prima do artesanato “barroco” (pela
consistência do material usado).
Mãos lavadas, correr para o almoço em casa, na cidade
universitária.
Lá pelas 13:20, ao chegar para o trabalho da tarde, nos
deparamos com a maior aglomeração das meninas (eram 5 ou 6) diante do toalete
feminino, conforme se podia esperar.
Com a maior cara de pau, fomos logo perguntando o motivo daquela
algazarra, demonstrando verdadeira preocupação com a ordem e a disciplina da
casa. A reação, igualmente previsível foi o convite para ver o que haviam feito
no intervalo do almoço.
Com todo o cinismo necessário nessa hora, fomos abrindo
espaço entre elas, pedindo evidentemente, licença para passar. Parei bem de
frente para o quadro que lhes estava causando tanta indignação. Confesso que
realmente impressionava a imundice.
Por alguns minutos, o silêncio...
Então, como o momento exigia, o chefe tinha que tomar uma
decisão.
Acompanhado pelo olhar atento de todas, com toda a possível
seriedade e cinismo, identifiquei um pedaço mais saliente daquela massa marrom,
e, com os mesmos dedos polegar e indicador direitos que tão úteis foram no
preparo da cena, peguei esse pedacinho mais vistoso do azulejo.
Ainda com a cara de indignado, levei os dois dedos à boca, e
após chupara com gosto a substância que já se encontrava consistente àquela
hora, olhei para todas e exclamei:
- “E é merda mesmo!...”
Desnecessário descrever o que foi a reação das meninas.
Muito pior que a suposta substância deliciosamente provada foi o estrago que
elas fizeram. Principalmente duas que tinham o estômago mais fraco.
Evidentemente tratei de lhes contar o que havia acontecido.
Recebi o seu perdão, mas de uma ou outra essa decisão de desculpar não foi
imediata, e certamente nem foi no mesmo dia.
Mas tudo acabou bem. Duas delas (Eleuza e Maria) me
convidaram para padrinho de casamento. Ainda hoje me orgulho disso.
Quanto a brincadeira, até hoje, passados tantos anos, tem
servido para alegrar os encontros com os antigos sócios, os companheiros de
trabalho e muitos outros que nem nos conheciam naqueles tempos, mas que
acabaram sabendo o que aconteceu nas conversas com amigos comuns.
O importante é que hoje, certamente, não existe mais a
necessidade de pedir perdão a ninguém pela brincadeira. Afinal, depois de
tantos anos, até as mais sensíveis encontram nessas lembranças um motivo para
sorrir.
Acredito que tenha valido a pena.
Wilson Bauru
Livro – “O dia do
diamante negro – Fragmentos de uma vida irreverente levada à sério” – 2012 –
Comentários