Na contra mão do mundo





         Não acreditei quando abri o Jornal de Limeira e li sobre a alteração proposta pelo prefeito Paulo Hadich de reformulação administrativa para contenção de gastos extinguindo a Secretaria de Mobilidade Urbana e olha que há mais de um ano não emitia minhas opiniões sobre o tema.
         Com a frota de veículos crescendo exponencialmente nas cidades, os congestionamentos se proliferam por toda a malha viária exigindo soluções definitivas como pontes e viadutos, duplicações, desapropriações, que são caras ou outras saídas paliativas, momentâneas, como semaforização de rotatórias (viável na falta de recursos), terceiras faixas, faixa reversiva e etc. A única forma de evitar o tal caos que se aproxima é um planejamento urbano totalmente baseado num planejamento viário e de transporte coletivo coerente e atrativo para a população.
         Desmembrar a Secretária de Mobilidade Urbana em três partes como: a fiscalização junto à Secretaria da Segurança; o planejamento viário junto a Secretaria de Obras (pasmem!) e o transporte coletivo (urbano, fretamento, taxis, escolares) nada foi cogitado e ainda da educação para o trânsito então, nem se ouve falar. Eu me pergunto: seria um engenheiro de tráfego nomeado para dirigir uma de tais secretarias?
         A cidade brasileira que mais cuidados têm com a mobilidade urbana, Curitiba, desde os anos setenta, conduz o seu planejamento urbano em cima de um planejamento viário e de transportes, a cidade cresce em cima do que está previsto para atender a população nos seus deslocamentos. E não ao contrário como fazemos por aqui cujos ônibus correm atrás dos passageiros conforme os bairros vão sendo implantados. Lá são anos e anos de investimentos, milhões de dólares aplicados.
         A única saída para todas as urbes é priorizar o transporte coletivo em detrimento ao transporte individual. O setor responsável pelas ações de mobilidade deve ser prestigiado, valorizado, ter força para conseguir impor os seus projetos que sempre mexerão com a zona de conforto das pessoas e por consequência sofrerão fortes críticas por parte da população, da mídia e de entidades. Com este gesto, acredito que o prefeito tenha minado o poder de fogo do setor em promover qualquer alteração na malha viária da cidade. Gostaria de saber se qualquer um dos secretários que herdarão o espólio da Secretaria de Mobilidade Urbana terá a coragem que a Andréa teve em abordar temas polêmicas (pode até ter-se equivocado em algum), recebido críticas, muitas vezes, injustas, numa área em que eles não dominam. Qual deles avalizaria o projeto de semaforização da Barroca Funda?
         Senhor prefeito, ainda há tempo de reavaliar sua proposta.

Sergio Lordello

Ex-Secretário de Transportes de Limeira


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