A natureza e eu
Os
meus sócios no rancho, o Paulo e o Beto, reclamam de que eu deveria pagar uma
parte maior na minha cota só porque, agora aposentado, posso ficar mais dias
durante a semana curtindo a fantástica natureza lá existente. Pura inveja, mas tento
lhes explicar que a minha presença lá é uma garantia para a segurança da
propriedade contra visitantes indesejáveis.
Mas
conversas à parte, aos poucos fui criando uma rotina para combater a solidão do
lugar e ir, aos poucos, me inserindo naquele mundo pertencente ao reino animal
e vegetal. Todo dia, logo de manhã (nem tanto assim), preencho as garrafinhas
com água açucarada para os beija-flores e cambacicas (sebinhos), depois corto
meio mamão em pequenos pedaços e os distribuo numa prancha de madeira no meio
do quintal, após corto meia dúzia de bananas em pequenos nacos e os coloco no
cimento do jardim e finalmente espalho quirela de milho em muitos cantos. Daí é
só esperar o espetáculo do desfile dos sabiás, sanhaços, saíras, ticos-tico rei,
bem-te-vis, pica-paus, guaxos, saís-cayena, bigodinhos, canários da terra e por
aí a fora. Até um casal de tucanos têm rondado o local lá do alto das árvores espreitando
para serem convidados para festa. Quando é verão então, ligo o aspersor de água
e tudo vira uma verdadeira folia com cada família brigando por um espaço para
os seus, um verdadeiro “piscinão” de Ramos.
Interessante
é que se me atraso na manhã (pois ninguém é de ferro num rancho), eles,
impacientes, passam a reclamar da demora, até ensaiam um movimento geral,
cantando, piando e todo aquele barulho “infernal”. Certa vez um beija-flor
adentrou à sala exigindo os seus direitos e as cambacicas, todas elas, na área,
ensaiaram uma sonora vaia para mim. No primeiro dia em que retorno ao rancho,
eles ficam ainda ariscos, mas a partir do segundo, depois destes anos todos que
isto acontece, já se tornam sem-vergonhas e se aproximam sem qualquer receio, então
passam a serem reféns das lentes da minha máquina fotográfica, cujas fotos ou
filmes, posto no meu blog. Quando aparece alguma espécie desconhecida por mim,
já envio o arquivo para o Claudio Cortez para que ele a reconheça.
Agora
o que eu não gosto mesmo é dos finais de semana ou feriadões, pois aporta na
região uma horda de jogadores de truco, cozinheiros de barranco de rio,
curiosos, que pensam ser lá um lugar sem lei, então soltam rojões, bombas, som
de boate ao vivo, como se estivessem num estádio e seus times estivessem
prestes a se tornarem campeões. É por isso que eu sempre digo aqui na cidade e
poucos me entendem:
-“Eu só vou ao
rancho no meio da semana porque nos fins de semana tem muito vagabundo por lá”
Sérgio Lordello
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