Jovens sempre os mesmos
Foi
uma promessa que fizemos no inicio do cursinho: se entrássemos na faculdade
iríamos todos viajar para Salvador. Ao longo do ano fomos acertando os detalhes,
definindo a rota, guardando dinheiro, comprando apetrechos para o acampamento,
até que finalmente saíram os resultados e todos nós conseguimos as vagas. O
ponto crucial de todo o esquema eram as conduções, pois as únicas disponíveis
eram os “fuscas” do Beto Savoi e do William Corrêa (Birbão) e só na hora de
partir é que descobrimos que o Birbão ainda não havia negociado com seu pai a
autorização para uso do carro.
Óbvio que a negativa dele frustrou todas as
nossas esperanças, mas o Newton (de Castro), inconformado, procurou o Dr.
William e desafiou-o a dar crédito a seu filho, discorrendo sobre a boa
formação dada por ele ao jovem, no que sua resposta nos deu certo alento:
“traga seu pai aqui que decidiremos”. Noite de sexta, véspera do dia marcado
para a saída e fomos todos procurar o Dr. Cayudi (pai do Newton) pela cidade
apenas com a informação que fora numa seresta com amigos. Depois passarmos
pelos lugares que ele freqüentava costumeiramente, fomos descobri-lo no antigo
bar do Felizi ladeado pelos companheiros e os seresteiros Paraguai, Claudio,
prof. Gonçalves e outros. Então apenas no outro dia de manhã o assunto foi
resolvido e partimos para nossa aventura.
Depois de
vários percalços durante toda a viagem, ela não poderia terminar sem o maior
deles. Voltando, houve um desencontro dos dois “fuscas”, no trevo de Feira de
Santana, e nos perdemos um do outro. No primeiro estavam o William, Newton e eu
e no outro o Beto, Benhur e o Cesar Friaz, com a seguinte condição: todo o
dinheiro nosso estava com eles. Ninguém sabia quem estava na frente, não havia
telefones para contatos (celular, nem pensar), os postos rodoviários não tinham
sistemas de comunicação, nem mesmo recados eram deixados de um turno para o
outro. Somamos os trocados e eram suficientes apenas para a gasolina, então
resolvemos seguir em frente mesmo sem notícias do outro veículo. Quase 24 horas
sem sabermos dos outros, decidimos então ligar para o Dr. William em São Paulo,
para não despertar suspeitas em nossos familiares e caso tivesse acontecido
alguma coisa com os nossos amigos, saberíamos.
Ligação ruim, quase inaudível, e o
diálogo foi assim:
- Pai, tudo
bem aí? Perdemos o carro.
- O que filho?
Como? Perderam o carro?
- Não pai, foi
o outro carro.....tu tu tu tu ....(caiu a ligação).
Sérgio Lordello
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