A primeira namorada


         Numa quinta-feira comum como todas as demais, adentrei ao banco, no fim da fila dos caixas eletrônicos e fiquei observando as pessoas ali, cada uma delas preocupadas com seus afazeres, muitas com pressa para continuarem o seu dia de labuta, outras já querendo voltar para suas tarefas domésticas. Homens, mulheres, jovens, todos com o semblante carregado, não se importando muito com os problemas alheios, nem incomodados com a situação dos demais. Cada um ali estava dentro de seu mundo, pensando apenas nas pendências de suas vidas, sem tempo para ninguém.
         Algo me chamou a atenção no perfil daquela “senhora” envolvida em se relacionar com o caixa, apertando, apressada, os botões do teclado; respondendo, atenta, as solicitações da máquina; digitando, com cuidado, a sua senha; pegando, apressada, o dinheiro que solicitara; recolhendo, precavida, os recibos emitidos. Não sei se era seu cabelo, hoje, curto, ou o formato do rosto, mas me veio lembranças do ginasial (hoje oitava série) no Trajano Camargo, todos adolescentes, querendo aprender as coisas da vida e o relacionamento com o mundo feminino.
         Ela virou-se e dirigiu-se à mesa de apoio e então pude ver seus inconfundíveis olhos azuis, era ela mesma: a primeira namorada! Receoso pelos mais de quarenta anos daqueles tempos, nunca mais a vira, ou conversara com ela, apenas recentemente tenho observado algumas de suas façanhas pelo Facebook. Esse tempo todo foi deixando marcas em mim como os meus escassos cabelos, o meu peso muito acima do daquela época, os movimentos mais cadenciados, nada que pudesse fazê-la reconhecer-me dos tempos de outrora.
         Muitas recordações, naquele momento, me passaram pela mente daquele intrincado mundo adolescente: segurar em suas mãos; o beijo inocente roubado no escuro do cinema; passar na frente dos colegas com as mãos em seus ombros, as reprimendas de sua irmã mais velha para que não nos atrasássemos na volta para casa. Só sei que depois cada um seguiu seu caminho, construiu sua vida, abriu seu espaço, encontramos pessoas que nos completaram em nossas missões, formamos as nossas famílias e seguimos em frente, cada qual em sua história.
         Agora fico pensando sobre os jovens de hoje em dia que nem namoradas tem mais: eles “ficam”. Um dia com uma, outro dia com outra, sem compromisso algum. Enjoa, larga e parte para outra. Sei, não. Será que numa quinta-feira comum, quando o tempo deles que resta for muito menor do que o que passou, numa esquina qualquer, eles esbarrarão em alguém que lhes trarão recordações como as nossas, dos nossos bons tempos?


Sérgio Lordello

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