O uso de celular em sala de aula
Eu,
ainda aprendendo a ler e escrever, já convivia com a turma do meu irmão Sillas
estudando até altas horas da noite no quartinho da lavanderia nos fundos de
casa. Jovens que, possivelmente, faziam parte da “Turma do Jardim”, na década
de sessenta, como o Arizinho Pereira, “Doca” Zalaf, Ernani Mercadante, Dimas
“Servage” Garcia e que, em dias de prova, se reuniam lá para estudar madrugada
afora. Coitado do senhor Manoel Queiroz, nosso vizinho, que via na sua
jabuticabeira carregada, as marcas do assalto da noite anterior feita por eles.
Mas hoje tudo é
diferente. Chego dias atrás em casa e ouço minha neta Yasmin dialogando na
cozinha sobre dúvidas na matéria da prova de amanhã. Quase dei meia volta
buscar mais pães para a turminha quando percebo que ela estava conectada a
internet estudando em grupo, em tempo real, e diante de uma dúvida delas, recebo
em meu celular um texto para corrigir. Quanta diferença daqueles tempos.
No inicio do
ano, em uma reunião pedagógica no Cotil, numa discussão de temas, propus uma
mudança de posicionamento na rigidez da proibição de uso de celular em sala de
aula e apenas recebi o apoio do pessoal da área de informática e a censura da
turma do ensino médio. Numa escola técnica, nível médio, com disciplinas especificas
cujo material didático dificilmente resiste um ano atualizado, porque não
pensar em se tirar vantagens de uma tecnologia muito poderosa e disseminada
como esta?
No curso de
Qualidade, e acredito que nos demais também, cada classe tem um e-mail, no qual
nós professores colocamos os materiais, as notas, as observações, as dúvidas.
Todo professor disponibiliza o seu endereço virtual institucional para que os
alunos possam tirar dúvidas, obterem esclarecimentos, confirmarem datas e etc.
Quantas vezes eu recorri à facilidade e rapidez do Facebook atrás de alguma
informação da classe ou de determinado aluno.
Também era
discípulo da “ditadura do celular na escola”, mas mudei de ideia no ano passado
quando, ao aplicar uma avaliação com consulta aos próprios materiais sobre a norma
ISO 14.001 (Gestão Ambiental), fui questionado por alguns estudantes se poderiam
usar a versão que dispunham nos seus celulares. No papel de “velho mestre”,
muito próximo da aposentadoria, proibi, achando que era desleixo da parte
deles, como poderiam vir à aula sem o devido material? Depois de um exame de
consciência, anulei a prova e marcamos uma nova data e com outro tema.
Dias destes,
por um problema técnico, não consegui mandar a tempo um artigo que eles iriam
trabalhar em sala de aula. Nem me preocupei, pois cheguei à classe, repassei
meu arquivo para um deles e este o enviou para os demais. O importante é fazer
uso da tecnologia e não renegá-la.
Sérgio Lordello
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