Meu dinheiro de volta
Sei
que não deveria ter feito isto, mas a curiosidade foi maior. Tem coisa que é
melhor não saber, não entrar em detalhes, pois quando a verdade vem à tona e
sua impotência diante do fato é tão evidente, resta-nos uma sensação ruim de
nossa fraqueza. Talvez a mesma do cara que fraga a esposa com o amante no sofá
e se desfaz do mesmo (lógico que é do sofá e não do amante que estou falando).
Pois bem, vamos aos fatos: sentado na sala de espera do meu cardiologista,
consultório lotado, sem nada para fazer e com a ajuda do meu novo celular “último”
modelo comprado no Paraguai recentemente, passei a fazer uma análise dos
índices no meu holerite.
Valha-me
Deus. Apesar do meu mero salário de professor vejo uma lista de descontos que
me assusta entre 27,5% de imposto de renda, 11% de SPPREV (INSS de funcionário
publico), 2% de IAMSP, (uma assistência médica não disponível no interior),
mais 1% da entidade de classe. Somando tudo, chego ao impressionante índice de
41,5% de descontos. Simplesmente um pouco menos da metade do meu salário é
descontado na fonte, não passa pela minha mão e nem vejo a cor dele.
Mas
não é só isso. Durante os últimos vinte e cinco anos paguei religiosamente
mensalidades de escolas para meus filhos já que os nossos governos (todos) não tiveram
competência para proporcionar um ensino de qualidade para a população. Da mesma
forma, por não ter um sistema de saúde que ofereça condições básicas de um tratamento
digno preciso tirar mais uma parcela do meu salário para ter um plano de saúde
para os meus. Pior ainda foi saber, depois de uma consulta ao amigo Celso
Leite, que dos R$6,00 pagos pela cerveja no Barzão quando fomos, minha esposa e
eu, assistir o jogo do Brasil, nesta segunda-feira, R$3,36 foi para as mãos do
governo em forma de impostos. E os índices são altos para todos os produtos:
casa popular 48%; diesel 41%; escova de dente 34%; arroz e feijão 17%, gás de
cozinha 34% e por aí afora.
Então
cheguei à conclusão que trabalho para pagar impostos, somente isto. E será que
existe alguma chance de mudança neste quadro? Com os políticos atuais nem
pensar, com as ideologias atuais dos partidos de jeito nenhum, com relações
espúrias do meio, impossível. Vamos precisar tomar muito cuidado com as nossas
escolhas nas próximas eleições, pois os que hoje lá estão não farão tais
mudanças. E os novos devem mostrar competência, compromisso com o seu
eleitorado e não, como parece que vai acontecer em nossa cidade, com um número
enorme de candidatos sem terem lastro nem para serem síndicos de seus
condomínios.
Sérgio Lordello
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