Una aventura paraguaya
Quem
sempre reclama é minha esposa sobre o meu jeito de ser. Manias adquiridas no
transcurso da vida e refinadas com a idade avançando, sou daqueles chatos que
tem plena consciência da sua incapacidade em pechinchar valores, desfazer-me de
pessoas inconvenientes que querem vender vantagens ou simplesmente não
desvencilhar-me de pedintes que “poderiam estar roubando, matando”. Até em
boteco pareço um para-raios atraindo a conversa dos bêbados do pedaço. Tanto é
que, quando vamos negociar um novo automóvel para a família, coloco-a na frente
do negócio e sua decisão é soberana devido a sua experiência de mais de trinta
anos como empresária do comércio.
Fim
de semana, fomos à Foz do Iguaçu e, lógico, uma das suas atrações inclui
compras na Ciudad Del Este, no Paraguai. Dia marcado, a van do hotel nos levou
até lá e pelo curto trajeto, o guia nos foi instruindo sobre as armadilhas de
seus comerciantes, o comportamento dos barraqueiros no comércio de rua, os
trambiques com a troca dos produtos por nós examinados e trocados após a
compra, os artigos falsificados, similares e importados. Deveríamos nos
comportar como verdadeiras árvores, não emitir nenhum som, olhar perdido no
horizonte ao sermos abordados por muambeiros na rua.
Depois
de toda esta preleção fiquei apavorado, pois não consigo encurtar nem os apelos
bíblicos de leais seguidores de certa religião no meu bairro todo domingo de
manhã. Desci da van e caminhei, ou melhor, tentei caminhar incólume por duas
quadras seguidas, mas neste trecho ofereceram-me quatro barbeadores, oito
dúzias de meias, seis armas de choques elétricos. Diminui o passo para observar
algo e senti três aparelhos de massagem nas costas, cinco fones de ouvidos
diferentes, uma dúzia de bonés.
Desesperado,
adentrei num shopping novo recém-inaugurado, onde os tais camelôs eram barrados
na porta e as compras poderiam ser feitas com mais tranquilidade apesar dos
preços serem mais altos e (sabe Deus) os produtos de confiança. Nele fazemos as
compras nos diversos departamentos e pagamos na saída, em fila única. Pois é,
naquele dia, por um problema técnico, metade dos caixas estava desativada,
resultando numa espera de mais de duas horas. Finalmente livre, cheguei à porta
e vi aquela horda me esperando para o ataque de vendas, respirei bem fundo e
lancei-me ao combate, com cara de mau, gestos bruscos e grande velocidade. Na
primeira quadra fui bem, já na segunda eles se organizaram e conseguiram um cerco
a minha pessoa, senti-me uma verdadeira presa numa savana africana, cercado por
predadores.
Quase chegando
a van, já deixando as pedras que levava à mão, deparei-me com um velhinho
simpático, de barbas brancas, um verdadeiro Papai Noel que se aproximou e
disse: - “tio, tenho algumas cartelas de Viagra verdadeiras para o senhor por a
casa em ordem”.
Sabe que nem
mais me lembro de onde o mandei enfia-las.
Sérgio Lordello
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