Invasão mineira
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Apesar
de ter jurado nunca mais enfrentar minhas férias numa praia em janeiro, lá
fomos nós, este ano, no mesmo apartamento do ano passado, toda a família tentar
curtir o sol e as areias abarrotadas de guarda-sóis, isopores, cadeiras e tudo
o mais. Ultima semana antes do início das aulas, estava convicto que grande
parte do povo que anualmente desce para lá, já estivesse voltado, mas triste
engano. Todas as vagas do estacionamento do prédio estavam tomadas, as janelas
dos vizinhos todas abertas, os elevadores não tinham folga. Para ajudar, o
calor estava insuportável e os ventiladores não davam conta das nossas
necessidades.
A
novidade, desta vez, foi à presença de centenas de carros de cidades como Pouso
Alegre, Itajubá, Borda da Mata, Carmo de Minas, Delfinópolis, Pocinhos do Rio
Verde, Ressaquinha, Campo do Meio, Carrancas, todas elas mineiras. Os turistas,
este ano, em sua maioria, eram mineiros de quatro costados, daqueles que tem um
vocabulário próprio, com expressões como: “danadodibão”; “bão tamém”; “óiqui”;
“muié, pega os trem que a coisa tá vindo”; “Bélorzonti, nossa capitar” e por aí
afora. Os mineiros têm algumas características que os tornam impar em relação
aos demais brasileiros, são pessoas atenciosas, simples, sinceras, que
transferem seus hábitos caseiros para os locais para onde vão. Por exemplo: um
deles não se fez de rogado e foi à praia com um carrinho de praia adaptado com
caixa de som, rádio automotivo, bateria na parte traseira e guarda-sol.
Bons
de prosa fazem amizade rapidamente, e não se furtam em falar de suas
propriedades, dos conhecidos, citando nomes, contando intimidades e segredos,
logo no início da conversa. Foi assim que aconteceu com o Celino, que encontrei
numa barraca de praia, já tinha oferecido emprego para o garçom em sua fazenda
no sul de Minas e já foi dando conselhos para mim sobre o meu futuro como aposentado,
que deveria fazer como ele que tem umas cabeças de gado, alguns caminhões
alugados aos Correios, abriu uma loja para a mulher (“cabeça vazia oficina do
diabo” dizia ele) para complementar a aposentadoria. Era também metido em
política, assessor do governador Antônio Anastasia para a região, quando lhe
questionei sobre um antigo prefeito de sua cidade e sua amizade, que conheci
quando por lá trabalhei, corrupto da pior espécie, safado mesmo e ele foi
ligeiro na resposta:
-
Sabe doutor (todos somos para eles), ele está tortinho já, quase não anda
direito e depois que a Mércia(?) morreu, o gajo casou de novo com uma menina de
24 anos. Outro dia mesmo, meu primo Afonso foi receber um dinheiro dele e ela o
recebeu de camisola transparente e a calcinha enfiada na bunda. Vê se pode isto.
Sérgio Lordello
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