Eu acho que o senhor estava por lá



         A impressão que tive foi que o senhor estava por lá,  junto de nós. Foi agora no último sábado, logo de manhã, acordei cedo e, a convite da escola que leva o seu nome, fui com o Paulo Marcelo representar a família no evento promovido por ela (escola) para homenageá-lo pelo centenário de seu nascimento. O burburinho da criançada no pátio da escola, recordando os últimos trechos de suas falas, as professoras nervosas esperando um desempenho bom de seus alunos, depois de tanto ensaiá-los e treiná-los. Os pais nervosos e curiosos para verem seus filhos cumprirem à risca o que haviam se proposto a fazerem.
         Enfim aquela movimentação toda me fez lembrar que aquele era o seu ambiente, o mesmo que o senhor ajudou a construir em todos os seus anos como professor, diretor, inspetor escolar. Seja nas escolas públicas onde lecionou, nas particulares em que ajudou a formar, sempre com uma preocupação única: fazer o melhor para formação da molecada integrando professores, pais e funcionários neste objetivo. Fazia daquele local um ponto de interação com a comunidade em todas as unidades por onde passou.
         Viu pai, apesar da minha desconfiança acima, vou contar que a cerimônia foi linda. Um jovem foi o mestre de cerimônias e comandou, com esmero, todos os detalhes, chamando seus colegas, um a um, para lerem, por trechos, a sua biografia, outros tocarem alguns instrumentos e alguns cantarem músicas de Vinicius (outro centenário neste ano também). Sabe pai, um deles compôs uma música com seu nome e cantou-a divinamente num estilo “soul” (acho eu) e diversas alunas escreveram e apresentaram crônicas de seus cotidianos, tendo como base as suas que estão no livro publicado pelo Sillas recentemente. Num trabalho espetacular, orientado pelas professoras, mais de trinta crianças elaboraram um caderno, daqueles grandes, várias paginas, com desenhos e textos da cada etapa de sua carreira. Ainda por cima a direção da escola presenteou-nos com uma placa de prata a nossa família.
         Os pais, todos atentos, estavam ansiosos para verem o papel de seus filhos e devem ter saído contentes com o desempenho dos mesmos. Eles mostraram todos os seus talentos e deixaram encantada a plateia. Mas interessante mesmo foi o discurso do Paulo Marcelo, sabe como ele é emotivo, não é pai? Ele foi bem, contou para os presentes algumas das suas peripécias, como aquela vez que deixou os seus alunos do Leovegildo entrarem para a sala de aula sem água para beber nos potes (naquela época) e quando voltaram no intervalo, eles estavam cheios de groselha. Não se esqueceu da demonstração que o senhor deu para o padre João subindo com seu candango (DKW) as escadarias da igreja de São Sebastião. Foi muito bonito tudo.
         Sabe pai, não sei por que estou lhe contando isto tudo, pois bem que, ao subir no meu carro para ir embora, senti o cheiro de óleo do motor dois tempos do seu velho candango. Não é senhor Lázaro Duarte do Páteo?

Sérgio Lordello



Comentários

Anônimo disse…
Grande Sergião!

Emocionado com a leitura

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