O dia em que caí no golpe
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Ela
mora há muitos anos na beira do rio, numa casa confortável, piscina e passa a
maior parte do tempo escolhendo pedras graciosas para revestir as paredes dos
cômodos, serviço que ela mesma executa. Vez ou outra, nossa turma vai para ao
rancho quase vizinho do dela e quando o Tadeu, seu irmão, vai junto, vamos
visitá-la e ela prepara muitos quitutes gostosos, de todos os tipos, para que
fiquemos o maior tempo possível.
Muitas
vezes passamos longo tempo sem vê-la, mas certo dia, o Stanley e eu, a caminho
do rancho, paramos no Bar do Romualdo (Pitangueira), para tomarmos uma cerveja,
num fim de tarde, antes de prepararmos o jantar para a turma que chegaria mais
tarde. Conversa vem, conversa vai, mais uma gelada, uma porção e chega o dono
do bar falando que o Tadeu acabara de telefonar pedindo para que subíssemos
correndo no rancho dela, pois alguém ligara para sua mãe dizendo que estava
indo lá para matá-la.
Correria,
desespero, nós dois pegamos o carro, colocamos mais uma dupla de apoio e fomos
ligeiro ver o que estava acontecendo. Lá chegando, tudo estava fechado, batemos
palmas e nada. Começamos a gritar seu nome e nos apresentando, até que ela apareceu
escondida entre as folhagens, chorando e se questionando porque tal
barbaridade. Conversamos, tentamos acalmá-la e resolvemos levá-la ao nosso
rancho distante uns mil metros do dela, pois lá o “facínora” não saberia onde
ela estaria. O Stanley imediatamente foi levar os outros dois de volta ao bar e
eu fiquei esperando ela arrumar suas coisas.
Começamos
a caminhada e lembrei-me que, por estar um pouco acima do peso, sua silhueta
hoje estaria inconfundível para quem a olhesse por trás e seria muito difícil tentar
camuflá-la pelo caminho, caso alguém se aproximasse. Desesperado, na passagem
de um automóvel, obriguei o motorista a pará-lo e nos dar carona. Ela
acomodou-se na frente e já foi abrindo o jogo para o condutor, falando sem
parar. Só que o “maldito” dirigia muito devagar, a pé seríamos muito mais
rápido, foi então que me passou pela cabeça que poderia ser ele o próprio
“assassino”, pensei comigo – “pronto, mesmo jurando inocência, vou morrer
junto” – e não tinha como escapar, pois só havia porta na frente e o vidro
traseiro não abria.
Graças
a Deus o cara nos deixou na porta de meu rancho e imediatamente entramos. Logo
depois, como naqueles filmes de faroeste, a “cavalaria” da Polícia Militar e da
Civil, apareceu por lá, para ajeitarem as coisas. Na verdade alguém ligou para
a mãe dela falando que tinha sequestrado sua filha e na sequência tirou os
dados da mesma para tornar a história verossímil, como muitos casos que já
aconteceram.
Mas
vou confessar uma coisa: por pouco, mas muito pouco mesmo, não precisei pedir
licença para dar uma passadinha no banheiro e ver se não tinha acontecido uma desgraça.
Sérgio Lordello
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