Nota de quinze reais

(tmetade.blogspot.com)

         Futebol é um assunto que anima a conversa em todo boteco. Alguns frequentadores apelam, ficam bravos, enquanto outros levam tudo na brincadeira e se divertem com a desgraça dos times alheios. E os bares, talvez por influência dos donos, tendem a se definir em torno de uma equipe, mas a maioria deles prefere ficar neutro, deixando as discussões para os fregueses.
         Lá no bar do Toco desfilam todas as bandeiras, mas existe uma predominância de corintianos e são paulinos. Dentre os primeiros destacam-se o Daniel e o André, que chegam a brigar com a tevê, falar mal do juiz, torcer contra os rivais e até pedido de oração à filha para que o alvinegro consiga um gol salvador. Já nós tricolores (Balanga e eu), muito em baixa nos últimos tempos, só nos resta relembrar os nossos tempos de glória. Muitas por sinal.
         Final do ano passado, Corinthians classificado para o Mundial de Clubes e o São Paulo para as finais da Sul Americana. Então nós quatro, depois de muita conversação, selamos um acordo em que torceríamos juntos pelo sucesso dos dois clubes, com contrato assinado num guardanapo, avalizado por testemunhas e tudo. Jogo no Morumbi, transmissão pela tevê e o André chegou no horário com a camisa vermelha da sua empresa e um crachá preto, vermelho e branco. Era o mais são paulino de todos e gritava nosso hino de guerra sem cessar. Jogo solto e de repente tiro os olhos do aparelho e ele tinha colocado o crachá ao contrario, onde aparecia o escudo do Corinthians. “Filho da mãe, verdadeira nota de quinze reais”!
         Cansado de ver meu time apanhar mais que mulher de malandro e com saco cheio de tantas gozações, anunciei pelo Facebook: “Só bebo quando o São Paulo perde, mas como estou bebendo ultimamente...”. Bastou para que centenas de pessoas comentassem: umas prevendo meu fim trágico, outras para que procurasse os AA, algumas prestando solidariedade. Assim que o Muricy assumiu, depois das poucas vitórias, anunciei o fim da minha dependência.
         Semana passada, embora jogando bem, meu time perdeu. Mesmo assim fui no domingo à noite, enfrentar as feras que estavam no “coliseu” do Toco esperando para nos tripudiar, infelizes torcedores de um time em decadência. Parece que o André e o Daniel estavam a me esperar, bastou por o pé no local para começarem a gozação, risos e brincadeiras. Acho que com dó de mim, já que nem o Balanga aparecera, um cliente desconhecido de pronto falou em alto e bom som:
         - “A gente perde, mas não beija na boca” – referindo-se ao selinho do Emerson Sheik na internet.
         E não é que toda a farra acabou e eu não entendi ainda por que?

Sérgio Lordello

Professor

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