Fazendo as contas



( www.oabsp.org.br)
         Na terça-feira última foi o Dia dos Professores e, já de manhã, li o artigo do Celso Leite, onde faz uma bonita homenagem aos seus educadores de fato e aos que teve pela vida. No Facebook também havia inúmeras postagens com referências importantes aos grandes mestres.         Mas andei pensando sobre o merecimento de tais homenagens, fiz algumas contas, anistiei determinados abusos, perdoei as poucas intromissões de pais e deduzi que o saldo é bem mais favorável a mim do que a eles. No fundo eles me proporcionaram mais satisfações e alegrias do que a recíproca. Quantas situações nós, professores e alunos, criamos, ou aprontamos e fizemos juntos, numa relação de respeito, amizade e de cumplicidade.
         Em pleno abril de 1984, o Congresso Nacional iria votar a Emenda Dante de Oliveira propondo eleições diretas para presidência. Incentivei meus alunos a comparecerem vestidos às aulas naquele dia com uma peça verde-amarela. A grande maioria, precisando de nota, compareceu em peso com pelo menos um acessório na cor, mas o “esperto” do Marlon foi dar conta apenas no dia. Um de seus colegas trouxe, naquele dia, um vestido amarelo para uma campanha do agasalho anualmente comandada pela Zezé Joia, então o “alienado” foi até minha sala perguntando se aquela peça valia. Autorizei mas ele devia vir a minha presença vestindo o mesmo, no que ele foi à sua classe (masculina), colocou o mesmo e, aproveitando o corredor vazio, foi ao meu encontro. Na volta, seus amigos além de esconderem a sua calça, ainda alertaram as demais classes, ele, então, encontrou o corredor abarrotado e, não tendo onde se esconder, entrou no banheiro feminino. Um deus-nos-acuda difícil de ser esclarecido ao Edenilson, nosso diretor.
         Dia de entrega de projetos era terrível. Apesar da data estabelecida meses atrás eles sempre pediam a prorrogação dos prazos: do final da tarde para o início da noite; depois para o final da noite; até que, devido aos apelos deles, estendi a entrega para até às 6 horas da manhã na garagem de casa, onde os recolheria junto com o jornal. Noutro dia o vizinho veio questionar-me sobre o movimento de automóveis, a madrugada toda, parando na minha casa e jogando alguma coisa pelo portão. Nem explicando ele entenderia.
         Poucos anos atrás, em plena era do Orkut, os alunos resolveram me modernizar e criaram uma conta naquela rede social em meu nome. E quem entendia o vocabulário deles? Termos esquisitos, abreviações que pareciam mais ofensas do que outra coisa, enfim minha comunicação com eles estava incomunicável. Até que a Jéssica, “minha rainha” (usava esse termo por ela ter sido rainha da Festa do Peão de Iracemápolis) entregou-me, dias após, um dicionário com todas as traduções daqueles termos.
         Todas estas recordações me farão companhia quando, em breve, chegar minha aposentadoria.



Sérgio Lordello
Professor

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