Prefácio do meu livro
(Sillas Duarte o autor do Prefácio)
Recebo, por e-mail, um arquivo contendo
um conjunto de crônicas escritas pelo meu irmão, Sérgio, em ordem de data de
publicação no Jornal de Limeira. Junto, uma primeira ideia sobre a capa,
seguida de uma introdução. Pela metade. Depois, os trabalhos – todos já
conhecidos.
- O quê você quer que eu faça, Sérgio?
Pede-me que dê uma olhada e também uma
opinião. Pede-me, principalmente, que lhe faça a apresentação para um livro, um
possível livro, ele modestamente
esclarece.
Sérgio, o mais novo de meus irmãos homens, esse que
agora alimenta o desejo de ser escritor, em certa ocasião, caiu do murinho que
cercava a área de casa, bateu com o queixo no chão, queda que lhe abriu um
corte profundo próximo da ponta da língua. Corri ao Ponto de Autos São Benedito,
apanhei um taxi e, junto com mamãe, colocamos o artista no carro e fomos, os
dois, levá-lo à Humanitária (quando o hospital era ainda na rua Sete de
Setembro). Conduziram-nos a uma salinha, cheiro forte de éter no ar, mamãe
sentindo-se mal não sei se pelo susto ou pelo anestésico - o enfermeiro me
escalou para segurar a língua do mano
para fora da boca enquanto ele daria
uns pontos nela. Segurar a língua de um moleque, puxando-a pela ponta não é
uma tarefa muito fácil, principalmente com a mãe estando mais pra lá que pra
cá, desmaia ou não, com o agravante de que o menino deve ter lavado a língua
com algum tipo de sabonete visto que ela estava absurdamente escorregadia No
fim, a língua do artista foi costurada e hoje está apta como nunca para falar
dos outros e, em algumas ocasiões, de si próprio. E, para dar uma maior
garantia à sua arte, não satisfeito de usar a língua, meteu-se a redigir
textos: caso não possa falar, vai escrever como nunca - tudo indica que dele,
não conseguiremos escapar!
Sérgio mantém um blog na Internet, blog tratado com
carinho, além de uma crônica semanal. Possui muitos seguidores que se divertem
com suas receitas de culinária (as donas de casa), suas fotos (de pratos
apetitosos, cenas da natureza, pássaros, cascatas, flores, crianças) e, claro,
suas histórias colhidas na escola onde leciona, nos bares da cidade entre uma
cerveja e outra, no rancho à beira do rio onde ele diz - à esposa - que
frequenta, nas barbaridades que os bandidos de plantão vergonhosamente cometem
contra o erário público sem o menor pudor, sem a mínima consciência, esses
desgraçados que, mais cedo ou mais tarde, se não pagarem com juros seus crimes,
deixarão tal herança como incumbência de seus filhos, inocentes (talvez) que
foram amaldiçoados mais de mil vezes por milhares de vozes a quem prejudicaram!
Às vezes engraçado, às vezes rígido, às vezes
romântico, os textos têm todos os ingredientes para agradar; aliás, seus
leitores não cansam de incentivá-lo a reunir os trabalhos em um livro, dizem
que vão ajudá-lo a divulgar, se for o caso, vender os exemplares, ficar – no
mínimo – com um volume, essas conversas
de bebedores de cerveja!
Como irmão, peço-lhe que vá em frente, mas com um pé
atrás – sabe como são esses papos de botequim. Minha parte já fiz há muito
tempo atrás, quando ele ainda era pequeno: segurei sua língua escorregadia e
comprida para o enfermeiro da Humanitária dar uns pontos. Ele, não contente com
minha dedicada e preciosa colaboração, meteu-se, de uns tempos para cá, a
colocar no papel suas impressões sobre a vida. Aos que se comprometeram a
auxiliá-lo no livro, por favor, não o abandonem, cumpram a sua parte na
promessa: vocês não conhecem a língua desse meu irmão, não sabem do que ele é
capaz! Principalmente agora quando, com a maior facilidade, passa suas verdades
da língua para o papel...
Sillas Luiz Lordelo Duarte
Autor de:
- Sonho de apressar primavera
- A turma do jardim
- Buenos Aires, medialunas e gols de placa
- Lázaro Duarte do Páteo – Professor Velho
de Guerra
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