Universitários...ô raça!


         Moro no Jardim São Paulo local onde está havendo uma invasão de moradias de estudantes da Unicamp e nós, residentes na região, logo ficamos alerta ao vermos alguma placa de “aluga-se” nas casas vizinhas. Basta um movimento qualquer e logo vai um de nós especular sobre os possíveis moradores. Até agora não tivemos ainda grandes problemas além da visita de algum namorado ciumento, ou um carro chegar de madrugada com o som alto, nada que não possamos suportar.
         Mas, dias destes, num grupo de amigos sexagenários, revivemos as histórias nossas e de contemporâneos como universitários morando fora. Algumas foram de arrepiar, principalmente daquele trio Paulinho, Reginaldo e Carlão que muito aprontaram na região do Mackenzie em São Paulo. Eles moravam juntos num apartamento de um prédio antigo, daqueles que tinham uma escada em caracol que sempre aparecem em filmes de perseguição. Primeiro coletaram vasilhames vazios de cerveja em lata, das primeiras que não eram ainda de alumínio, nos bares da vizinhança até lotarem duas caixas grandes de papelão. Depois subiram até o topo da escada, quando o prédio inteiro já havia se recolhido, e lançaram todas as latas escadaria abaixo e se esconderam no apartamento. Aquele barulho infernal provocou a debandada de todos os moradores naquela noite.
         Foi fácil para se criar um clima de antipatia, quase insustentável entre eles, o zelador e alguns moradores. Principalmente o que ocupava o andar de baixo deles. Pessoa discreta, tímida, daqueles que preferem um livro ou música clássica. No apartamento deles havia uma tampa de uma urna mortuária que o Paulinho trouxera da funerária que o pai possuía e não deu outra. Certa noite adentro, ao som da música que vinha do vizinho, com ajuda de uma corda, desceram a peça até a altura da janela dele. Foi outro corre-corre e mais problemas com o zelador.
         O clima de inimizade estava se tornando insuportável, então eles deram a cartada decisiva. O zelador morava num pequeno apartamento acima dos andares tipo do prédio. Também num inicio da madrugada, moradores no silêncio, o trio sobe pé ante pé, e na porta do funcionário fizeram um serviço que só se faz em local adequado, cobriram com algumas folhas de jornal, atearam fogo, apertaram a campainha e sumiram. Ao pobre do zelador não restou alternativa senão controlar o princípio de incêndio com a ajuda dos pés...argh!!!!
         Depois da conversa fiquei pensando comigo mesmo: como são bonzinhos os nossos universitários aqui do Jardim São Paulo.

Sergio Lordello

Professor

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