Redondano

(Beto e sua irmã Dani )

          Eu diria que ele não era o melhor dos alunos, era da turminha do meio, que fazia para o gasto. Quando a classe aprontava alguma, pode ter certeza, seu nome estava sempre entre os envolvidos, mas malandro e esperto como era, sempre se dava bem nas desculpas. Na verdade era a classe inteira que vivia procurando alguma forma de instigar as demais.
         Certa vez, liderados por ele e com ajuda do Sorg, inventaram fazer um churrasco na chácara do Traia, já comemorando a formatura breve e, com segundas intenções, convidaram nós, professores, para o evento. Lá estavam o Paulão, Ana Carolina, Dirceu, Zezé, Marcão, Moranguinho, Euzébio, Ari e muitos outros. Como eles estavam precisando de notas, principalmente o dito cujo, então foi um tal de gentilezas a todo custo para nós. Chopinho gelado na caneca, carne quentinha a toda hora, até no truco nos deixaram ganhar de lavada. Consequência: todos passaram com louvor.
         Nesta época eu era professor de Desenho Arquitetônico e levava a molecada com rédea curta. Prazo de entrega era para ser cumprido, data de prova não se alterava e os alunos em geral tinham certo temor das minhas aulas, principalmente os novatos, instigados pelos exageros dos veteranos. Quis o destino que precisasse me deslocar a Pedreira para comprar brindes para a festa junina da escola num dia em que havia marcado uma avaliação para o primeiro ano. Na saída pedi para o Redondano avisar aquela classe que caso me atrasasse, a prova seria na segunda aula.
         Realmente me atrasei e chegando fui à procura dos alunos no pátio e não é que os encontrei na sala de aula, debruçados na prancheta, compenetrados fazendo uma prova, alguns nervosos, outros chorando, de tão difícil, com tópicos que eu não havia dado até então. Na frente deles, comandando o espetáculo, lá estavam o Redondano e o Breda alegando que eu mandara os mesmos aplicarem a prova.
         Pior foi o dia em que o Tito, seu pai, comprou um videocassete para a família. Ele, seu irmão e outros amigos ficaram a tarde toda vendo filmes, experimentando o aparelho e, lógico, algumas das fitas não eram nada religiosas. Logo no início da noite a avó e as tias chegaram para conhecer a novidade. Sentaram-se na sala esperando o grande momento e não é que eles esqueceram uma daquelas fitas do “capeta” numa posição que até a Bruna Surfistinha ficaria corada?
         Não importa o quanto tempo ficamos por aqui, pois nós marcamos a nossa passagem através das sensações que provocamos nas pessoas que estiveram próximas de nós, mas a nossa transcendência durará até quando tais pessoas forem testemunhas da qualidade destas sensações.

Sérgio Lordello

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