Inacreditáveis coincidências
- Sr. Marcos, desculpe-me ligar aí em
Ribeirão, mas arrombaram a janela da sua casa e roubaram algumas coisas. O pior
é que o vigia os ouviu falar que vão voltar.
Nem deu muito tempo, ainda de manhã,
acompanhado do sogro, chegou para dimensionar os estragos, uma maneira de
reparar a esquadria, quebrar o galho até quando voltasse, com a família, na
segunda-feira e conseguir consertar em definitivo. Encostou uma mesa, empurrou
um armário de encontro, colocou algumas panelas em pontos estratégicos e
duvidou das palavras do ladrão. Por via das dúvidas pediu ainda que seu
estagiário, depois do namoro, dormisse lá.
Lá pela meia-noite, o menino, após
despedir-se da namorada, saiu dos altos da Vila São João e foi ajudar o patrão
e ex-professor. Casa toda apagada, entrou, fez uma revista meticulosa. Tudo em
ordem ligou a televisão, desembrulhou o lanche que comprara e passou a
degustá-lo. Antes tirara a roupa e ficara só de cueca para não amassar suas
vestes com as quais iria à missa pela manhã. De repente escutou, vindo lá de
fora: - “Ô safado sem vergonha, vem aqui fora que você vai ver”.
“Pronto, os caras voltaram” pensou
consigo, apagando as luzes e deixando tudo numa penumbra. Seu coração acelerou,
o suor começou a escorrer pela testa e quando percebeu que era mais de uma
pessoa a lhe dizer impropérios, resolveu ligar para a polícia. Esperou, esperou
e nada do socorro. Abriu uma fresta na janela da frente e nada. Começou a rezar,
abaixou o som da TV, pegou uma toalha para enxugar o suor, mas os xingamentos
continuavam e parecia agora que a quadrilha toda estava a sua espera.
Telefone de novo na mão e fez um apelo
desesperado: “pelo amor de Deus, os caras vão invadir a casa e me pegar aqui
dentro, eu vou morrer sargento”. Então o
policial, percebendo algum equívoco na situação, orientou-o para que novamente
abrisse a janela que estaria uma viatura defronte a casa e que ela iria acionar
o giroflex, depois abrisse a porta e, com as mãos para cima, saísse em direção
aos guardas.
Lá fora, ao lado dos policiais, estavam
pelo menos uns cinco vigilantes noturnos da região, que haviam chamado a
Polícia pensando que eram os ladrões que haviam voltado para completar o roubo.
Hoje
ele é um radialista famoso na cidade, com um programa muito ouvido pela
população, há muitos anos. Mas o que ele não admite mesmo, dizem às más
línguas, é que no outro dia teve que passar em casa trocar uma peça de roupa,
antes da missa.
Sérgio
Lordello
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