Conversa esquisita
Ninguém quer falar no assunto,
principalmente quando se trata de nós mesmos. Mas aconteceu, meio sem querer.
Os irmãos reunidos no aperitivo de todo sábado na casa do Celso, todos com mais
de sessenta anos e foi inevitável: -“Alguém tem plano funerário ou sabe onde
ser enterrado quando a hora chegar”?
O mais velho engasgou com um petisco, o
Paulo Marcelo virou o copo de uma só vez e eu disfarcei fingindo que o assunto
não era comigo. Na verdade nós vamos empurrando com a barriga, deixando o tempo
passar, pensando que aquele dinheirinho da poupança pode cobrir estas despesas.
Depois de alguma discussão, os irmãos me encarregaram (sempre sobra para o
coitado do irmão mais novo) de pesquisar o assunto e trazer um orçamento
detalhado do “ato final”.
Entrei na primeira empresa e, diante do
sorriso da atendente, fui claro: -“Quero saber quanto custa para morrer”? Ela
então discorreu sobre todas as possibilidades, os direitos, os possíveis
problemas, as taxas que porventura haveria. Depois, gentilmente, levou-me na
sala ao lado, onde havia vários modelos de urnas com ou sem visor, umas coloridas,
outras discretas e até uma pintada com as cores e o distintivo do Corinthians
(valha-me Deus!).
Na véspera do encontro enviei-lhes o
seguinte e-mail:
“Depois de pesquisar nas empresas
especializadas informo-lhes que nos restaram três planos a seguir:
a)
Vapt-vupt
(morri e agora?) – pagaremos um determinado valor pela urna, translado,
velório, cafezinho e documentação. Tem uma taxa de sepultamento a ser paga no
cemitério.
b)
Horas Extras
(não desocupar a moita) – contribuiremos com uma mensalidade eterna e teremos
todos os direitos da primeira opção, extensivo a pais, sogros, filhos, vizinhos
até a hora que podarem a moita. Atenção: tem um prazo de carência e não
poderemos falecer neste período.
c)
Sumiço no Corpo
(não deixar rastros) – modesto valor por quilometro rodado no translado até o
cemitério da vila Alpina, pagar taxa de cremação lá com direito a uma lata de
cera Parquetina com o que sobrou.
Na sexta comentei com o pessoal lá do boteco,
imediatamente o André e o Balanga levantaram-se e foram embora com medo do
assunto. Já o Stanley decidiu que vai pedir que espalhem os seus restos num
shopping, assim terá a visita semanal da esposa.
Sérgio
Lordello
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