"Esse cara sou eu"
(www.radioemrevista.com)
Você até que tentou disfarçar, mas pensa
que não a vi enxugando pequenas lágrimas que insistiam em escorrer de seus
olhos durante a música no show da última terça? Mesmo eu relendo o jornal que
chegara naquela manhã, deu bem para acompanhar como a letra e a interpretação
do cantor mexiam com você.
Admito que o tempo em que já estamos
juntos, as mazelas da vida e a confusão do dia a dia, faz a gente esquecer-se
de “pensar em você toda hora” e nem
mesmo “contar os segundos se você demora”.
Eu bem que tento ficar “todo o tempo
querendo te ver” e até confirmo “que
já não sei ficar sem você”, mas a roda-viva do cotidiano não permite que eu
demonstre.
Você, por favor, desculpe-me, mas eu
chego tão cansado das minhas aulas, que não vejo a hora de comer alguma coisa,
tomar um banho e cair no sono, pois amanhã tem mais e dificilmente vou “chamá-la no meio da noite para dizer que te
amo”. Esse cara não sou eu.
Sei que é uma delícia “que depois do amor você se deite em meu
peito”, que fiquemos “acariciando os
cabelos, falando de amor ou outras coisas e causando calor”. Mas com o
pouco tempo que nos resta juntos, temos que dividi-lo com os filhos que nunca
desconfiam em dar um espaço para os pais, agora as netas que nos absorvem
integralmente como você, de manhã, vai “acordar
feliz, dar um sorriso e ainda dizer”: “esse cara é você”?
Sabe,
fica difícil para eu concorrer com ele. Suas músicas e letras são tudo que eu
gostaria de falar e fazer para você, mas nossa realidade é outra, mas mesmo
assim, aqui sobre as estantes da nossa sala vejo uma foto do dia em que, de
hora em hora, lhe enviei buquê de rosas ou uma segunda, do músico que chegou
sem avisar para fazer-lhe uma seresta.
Acho que só tenho o dia a dia, o
cotidiano para dizer tudo o que está escrito na letra daquela música quando,
por exemplo, toda manhã você desce as escadas sentindo o cheiro de um café
quente ou quando aos domingos pode acordar tarde sem se preocupar com o que vai
ter para o almoço. Quero que saiba que também estou pensando em você (família)
quando escolho tipos e marcas de produtos no supermercado ou trago, á noite, alguma
coisa que você gosta, sem avisar. Aí sim, esse cara sou eu.
Posso até demorar em trocar aquela
lâmpada que você me pediu, ou mesmo arrumar na hora a torneira a pingar, mas
todas as tardes estou esperando a sua neta na porta da escola, todas as noites
preparo eu mesmo o jantar. Aí sim, esse cara sou eu.
Sérgio
Lordello
Comentários
Sensacional e gratificante essa sua crônica "Esse cara sou eu". Queria eu ser o cara a escrever tão lindo e incisivo texto.Não é inveja não,é puro reconhecimento daquilo que é belo e reconfortante nas crônicas que você escreve.Parabéns, Aloisio.