Nunca peça informações num boteco
(americabus.com.br)
Eu me lembro de que o carro possuía
placas de Rio Claro e era uma noite chuvosa de sexta-feira, dentro dele três
freiras idosas que abaixaram vidro e perguntaram sobre uma missa na igreja
Santa Terezinha ali perto do Barzão, pois já estavam atrasadas. O Jair, aos
berros, pediu silêncio para o pessoal querendo entender o que elas diziam, mas
estava difícil.
Nisso, mesmo sem saber do que se tratava, apareceu o
Zé Gordo, muito prestativo, informando-as que para chegar lá na Santa Terezinha
bastava seguir em frente, sempre reto até o fim da rua e sentou-se à mesa. Quando
descobriu que era a igreja e não a rua que procuravam, pessoa séria que é,
queria pegar o seu carro e ir atrás das mesmas para se desculpar.
Com o Sr. Benedito foi muito pior. Morador antigo do
bairro, usuário contumaz do transporte coletivo, era visto sempre na área de
sua casa com o radinho ligado, ao lado de sua esposa. Depois da morte dela
passou a fazer pequenas viagens, até organizou grupos de amigos para
participarem de romarias pelo nosso interior. Com problemas de visão sempre
contava com a ajuda das pessoas para chegar aos seus destinos.
Pois é, naquela noite a turma toda reunida na
pracinha comemorando o aniversário de alguém. A festa já ia às tantas quando
chegou o Sr. Benedito e pediu que o avisassem quando chegasse o ônibus e, se
possível, o ajudassem a embarcar. Depois de um tempo, várias rodadas de cerveja
e muitos cumprimentos, alguém gritou que o Novo Horizonte acabara de virar na
esquina de cima. O Zia imediatamente passou a mão na pequena mala, atravessou a
rua correndo para chegar ao ponto, sinalizou para o motorista e foi colocando-a
no primeiro banco. O Neguinho conduziu o bom velhinho e apoiando-o pelas
costas, empurrou-o para dentro do veículo. O Sr. Benedito, estranhamente,
segurava na porta não querendo subir, mas os dois o colocaram sentado no banco
junto à mala e o ônibus partiu para o seu destino, levando-o.
Vinte minutos mais tarde desce pela rua um daqueles
ônibus enorme, de dois andares, próprios para excursões. Para no ponto da praça
e o motorista pergunta para todos que lá estavam:
- Oi, pessoal. Vocês não viram por aqui um senhor de
cor, velhinho já, que se chama Benedito? Estamos indo para Aparecida do Norte e
ele falou que embarcaria aqui na pracinha do Barzão, é o nosso ultimo
passageiro. Alguém o viu?
- Não, não vimos ninguém assim não. Quem sabe ele
não se confundiu de lugar! – gritou alguém.
Sérgio
Lordello
Professor
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