Tecnologia, para que te quero
Sei que a tecnologia está mudando tudo em nossa existência,
melhorando cada vez mais nossa qualidade de vida, aumentando a nossa
expectativa de sobrevivência e dentre as muitas formas de sua presença no nosso
dia a dia, temos que reverenciar o uso do celular.
Mas,
contudo, perdemos um pouco o charme da espera em falar com a namorada distante,
ou o dia todo aguardando ligações cumprimentando-nos pelo aniversário. Eu,
particularmente, tinha verdadeira obsessão por ligar a cobrar para os amigos
quando estava de férias, viajando ou num boteco famoso. Sempre achava um
orelhão, discava os números e aguardava o fim da música característica para
falar “meu nome e a cidade de onde estava falando”.
Numa delas, a caminho da praia da Enseada, liguei para meu
irmão na Varga. Como ele não estava, expliquei para seus funcionários a
situação e pedi que lhe informassem. E não deu outra, segurando o riso,
disseram:
- Sr. Sillas! O seu irmão ligou e disse que estava na praia
com uma dúvida terrível, não sabia se pedia uma porção de camarão ou isca de
peixe para acompanhar a cerveja e pediu a sua sugestão.
Noutro dia, a turma toda estava numa Praça de Itirapina,
pois fomos passar o fim de semana no Broa e resolvemos ligar para o Daniel.
Novato ainda na escola, não tínhamos muita liberdade com o mesmo e lá fomos
nós. Primeira tentativa em vão, segunda idem e na terceira ouvimos uma série de
referências as nossas mães e também para irmos para algum lugar que não me lembro
mais onde seria. Somente meses mais
tarde ele ficou sabendo por algum fofoqueiro do grupo e até hoje insiste ainda
em pedir desculpas pelo acontecido
Já com o Marcão foi diferente. Madrugada de sexta, nosso Tricolor
ficando bicampeão do mundo em Tóquio e, possivelmente seria o único conhecido
acordado. Ele não estava em casa e quem me atendeu foi a secretária eletrônica.
Coitada. Excitado pelo resultado, descarreguei uma lista enorme de palavrões,
impropérios, xingamentos, injúrias, todos os que eu conhecia.
Na segunda, já de volta, sentado à mesa almoçando com a
família, a empregada chega e diz:
- Olha Sr. Marcos, eu não sei o que o senhor fez, mas tem um
homem bravo com o senhor no telefone. As coisas que ele falou eu acho que até
Deus desconhece!
Sérgio Lordello
Professor
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