Elas não entendem
(orizamartins.com)
Elas realmente não entendem o que um bando de homens vai
fazer na beira do rio se nem pescar sabem. Toda vez é preciso argumentar muito
bem, colocar a necessidade de um descanso, pois o estresse está chegando; no
longo tempo sem umas férias e finalmente alegamos que a turma toda vai e só ela
não quer deixar. Na verdade elas fazem este charme todo, mas não veem a hora
que as deixemos em paz.
Daquela vez o time estava completo, o destino era o rancho
do Clarindo, em Santa Maria da Serra, lá no Tamanduá. Os professores e até o
diretor da escola, iriam, ninguém podia faltar. Até o Saran. Tudo combinado, a
primeira turma partiu lá pelo meio dia para limpar o local, já o Marcão e eu
sairíamos no final da tarde com as compras e a cerveja para o pessoal jantar à
noite. Mas eu não sei se o caminho estava complicado ou com muitos “desvios” e
diversas “paradas”, que só fomos chegar lá muito tempo depois da hora marcada.
O Clarindo, mesmo sem apreciar o sabor, tinha uma respeitosa
coleção de garrafas da cachaça e sempre liberava uma delas, à nossa escolha,
para aquecer-nos na primeira noite. Já o Edenilson era taxativo: não bebia
cerveja e para compensar levava duas garrafas de vinho para cada dia que ia
permanecer. Depois da comida, sentamos na varanda, apagamos as luzes, ficamos iluminados
apenas pelas labaredas do fogão de lenha, com alguns petiscos ainda no fogo e lá
fora, apreciávamos o brilho intenso de uma lua cheia.
Nosso anfitrião, exímio seresteiro e dono de uma voz encantadora,
de posse de seu violão, passou a cantar inúmeras canções, atender pedidos de
todos, o que adentrou pela madrugada afora. Lá pelas tantas ele e o nosso
diretor, cansados, foram dormir no quarto “dos que não roncam” e nós passamos
para uma sessão de piadas com o Dirceu e o Paulo, regada a muita cerveja.
Sol querendo aparecer, os primeiros pássaros já se faziam
anunciar e o Edenilson resolveu se recolher. Só então reparamos que toda sua
cota de vinho para o fim de semana, já havia sido consumida naquela noite. Pois
bem, chegou ao quarto, acendeu a luz, começou a colocar o pijama e não é que
ela se apagou. Ele então olhou, foi até o interruptor e acendeu novamente, mais
alguns instantes e outra vez se apagou. Ainda tentando colocar o pijama, ligou-a
novamente, mas a mesma brilhou por mais alguns instantes e sumiu de novo. Esta
história continuou ainda por diversas vezes. Finalmente ele desistiu, olhou e sem
entender nada, colocou somente a blusa do pijama e se enfiou na cama. No outro
dia, ainda meio de ressaca, foi o último a se levantar no seu quarto. Então ao procurar
suas roupas na valise, para um banho, descobriu um interruptor paralelo ao lado
da cama do Maurílo, nosso diretor.
-Filho da mãe.
Sérgio Lordello
Professor
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