Sessão das cinco




         Era época da nossa autoafirmação. Treze para catorze anos, quarta série do ginásio (hoje oitava) e a gente começava a deixar o futebol para lá, em troca de uma figura feminina. Conquistar uma menina da classe não valia, pois já conversávamos todos os dias e nós precisamos mostrar que conseguiríamos “ganhar uma mulher”. Troca de olhares nos intervalos, bilhetinhos, um recadinho por uma amiga, uma paquera na missa das dez na matriz (hoje catedral).
         Depois de um papo para os amigos verem, fazíamos o convite para o cinema, sessão das cinco. Era a única que podíamos ir, pois ao seu término dávamos uma voltinha pelo jardim e logo, antes das nove, os pais dela passavam para buscá-la. Tudo escondido deles, talvez as mães soubessem de alguma coisa. No escurinho do cinema, podia-se segurar nas mãos dela, uma glória! Depois de um mês, quem sabe um beijo furtivo, mais a frente um demorado, motivo de comemoração e de contar vantagens para os amigos.
          Oficialmente não havia pontuação mas quanto mais bonita a menina, maior era o nosso conceito com a turma. A ponto de podermos dar conselhos aos novatos. Entre as garotas da nossa escola tinha a Beatriz (nem sei por onde anda hoje em dia). Padrão de beleza, loira, olhos azuis, linda, simpática, inteligente, enfeitiçava os corações de todos nós da escola. Quem conseguiria sair com ela? Havia até uma espécie de banca de apostas.
         Quis o destino que o meu amigo Paulo Jacaré, um ano mais velho, namorasse a irmã dela e, por imposição familiar, eles tinham que ir sempre ao cinema acompanhados dela. Então os dois tramaram levar-me junto para fazer companhia a ela. Domingo, cinema lotado, lá chegamos nós quatro, sentamos nos fundos, lógico, eu e ela um pouco mais a frente e a turma toda viu. Alguns até se levantaram para ver se era mesmo verdade. No meio da sessão, eufórico, até tentei por o braço sobre os seus ombros, mas ela não deixou. Na saída, agora com seu consentimento, saímos de mãos dadas. Eu, lógico, todo inchado, olhava os companheiros como o todo poderoso.
         Com o tempo e com namoros que se tornaram mais firmes, a sessão das cinco tinha outra peculiaridade: devido ao dinheiro contado vindo das mesadas parcas, ao levarmos as namoradas ao cinema, comprávamos sempre bala “piper”. Conforme os meses passavam, nas datas, era dia de “chocotofe” e, quando chegava o aniversário de namoro, adquiríamos aquelas bolinhas de chocolate recheadas com licor.
         A vida era simples, mas uma delícia.

Sérgio Lordello

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