Galoucura



           
        Meu pai tinha duas paixões na vida: o Leão e o São Paulo FC. Com o primeiro acompanhou o time por todo este interior afora, não perdia um só jogo também na Vila Levy e pelo segundo, foi um dos abnegados que, mensalmente, contribuía para a construção do Morumbi. Raramente bebia, a não ser seu vinho em datas especiais e, eventualmente, um chope no Giovanetti em Campinas. Mas quando um dos dois ficava campeão, reunia a família, alguns amigos e abria um litro de uísque que guardava só para estas ocasiões.

         Seria uma heresia para ele que um de seus filhos torcesse por outros times, mas quis o destino que o Sillas, o mais velho e eu, o mais novo, ao vermos nossos conhecidos, como o João Ferraz, Dadona, Paulo Marmo, Candian, Sormani, Bassinho, Beto, Careca e muitos outros, jogando no Independente, começamos a não perder os jogos no Pradão. Todo domingo lá estávamos na arquibancada central vibrando pelas vitórias e chorando pelas derrotas.

         Então surgiu, com os reforços, aquela que seria uma das melhores equipes do Galo até hoje com: Loca, Nestor, Guerra, Basílio, Humberto e etc. O Leão já havia retornado do seu exílio e a possibilidade de derby era eletrizante. Os jogos eram sensacionais e as torcidas fantásticas. Não perdíamos uma só partida aqui e em várias cidades da região como Rio Claro, Americana, São Carlos, Leme ou Araras.

         Campeonato em andamento naquele ano, o Galo precisava ganhar do CAP (Pirassununguense), lá, para  classificar-se para o quadrangular final. A nossa torcida em peso compareceu e dividiu o estádio com a deles. Jogo difícil, amarrado, preso, gol de jeito nenhum. Termina o primeiro tempo e nada. Depois de uma cervejinha, caiu uma chuva intensa que Deus mandava. A torcida deles correu para  casa, mas a nossa permaneceu firme nas arquibancadas, nada nos moveria dali. O temporal só piorava.

Dois minutos de prorrogação e o placar continuava imóvel. Uma falta aconteceu em cima do Nestor pelo lado direito do campo e o Guerra ajeitou com muito carinho, olhou para a torcida, fez o Pai Nosso, e acertou o ângulo esquerdo deles. A massa galista foi à loucura, vibração geral que se estendeu pelas ruas de Pirassununga com os torcedores mergulhando nas enxurradas. Foi uma histeria coletiva.

Na volta, paramos num posto, totalmente molhados, inclusive as roupas de baixo. Primeiro encontramos os radialistas, entre eles o Hans Kraus e foi uma festa só. Logo após, parou ali também o ônibus da torcida feminina, tendo à frente, a sua líder,  Marines Fagotti, que com seu rádio gravador repetia seguidamente o gol decisivo.

Domingo último o nosso Galo tornou-se campeão da segunda divisão. Meu irmão Sillas e eu já abrimos uma poupança para 2016, quem sabe estaremos em Tóquio, no Mundial de Clubes, juntos com o Marcelo Assis, o Roberto Martins, o Júlio Maçorano e, se Deus quiser, também o Álvaro Zenebon.



Sérgio Lordello

Professor

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