Histórias de pescador

           Era tradição já. Todo ano, nas férias de julho, íamos, um grupo de professores da escola, para a distante Paulicéia, na barranca do Rio Paraná. Claro que a desculpa que dávamos em casa era a de que iríamos pescar. Alguns até que tentavam, como o Paulão Damir, que levava motor de popa, traia e um daqueles chapéus de pescador. O Marcão também disfarçava bem, num ano até uma barduela levou, uma espécie de armadilha para peixes, que só ocupou espaço no porta-malas.

         A preparação começava uns três meses antes. Era um tal de fazer reservas na colônia, saber quantos iam, com que veículos, definir o roteiro. Naquele ano a viagem prometia, pois nossos pescadores resolveram “acabar” com os peixes do “Paranazão” e foram comprar muitas tuviras, uma espécie de peixe escuro que serviria de isca para a pesca dos maiores. Acondicionaram as mesmas numa bombona azul de plástico, com tampa para não derramar a água durante a viagem.

         Um de nós era sempre escalado para cuidar da sobrevivência das tuviras como trocar a água, alimentá-las e, a toda hora, éramos questionados sobre o bem estar das mesmas. Na pousada, a bombona foi colocada no quarto para melhor atenção e cuidados.

         Os demais participantes da excursão nada tinham a ver com a arte de pescarias. Tanto o Paulo, o Pena,  Orlando, Amauri, Zacha e eu, ficávamos em terra conhecendo os lugares, descobrindo locais para uma boa refeição, pegando a balsa para tomar um aperitivo no lado do Mato Grosso. Aliás, este local era Porto João André, tão pequeno que existiam poucas casas, uma “venda”, daquelas que tinham de mortadela à “modess”, de querosene à garrafas de pinga com cobra e um açougue.

         Os dois pescadores da turma, agora reforçados pela chegada do Fernandinho “Beira Rio”, na época novato na escola, saiam de manhã com o barco e só voltavam no final do dia, almoçando um marmitex gelado que a cozinheira preparava na madrugada. Só que os peixes, acredito, estavam em greve, ou de briga com eles, pois nada deles aparecerem com pelo menos um, só aqueles pequeninos, que nem para a frigideira serviam. Mas as cobranças sobre a integridade das “malditas” tuviras continuavam inabaláveis.

         Por conta deste zelo, os nossos passeios, a toda hora, eram truncados. Ora um, ora outro, tinha que se deslocar para ver como elas estavam. Ninguém mais aguentava todo esse cuidado, principalmente em função dos pífios resultados das pescarias.

         E, num fim de tarde, sol vermelho no horizonte e lá estavam voltando os nossos pescadores intrigados com um grande alarido no tobogã da pousada. Viram então toda a criançada, filhos dos hóspedes, fazendo a maior algazarra, nadando atrás das tuviras livres, leves e soltas nas águas naturais da piscina.

         Finalmente o nosso grande problema estava resolvido.



Sérgio Lordello

professor

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