Tichuco um amigão...
(seucachorro.com)
Dizem que ele nasceu por um descuido da empregada. Ao fazer a limpeza no canil ela esqueceu-se de fechar o portão do intrépido dobermann, que há dias já estava de olho na encantadora collie. Isto resultou num charmoso cão de pelo curto e cor caramelo, focinho comprido e uma vitalidade sem par. Chegou para nós quando éramos ainda recém-casados, casa montada às duras penas, aluguel muito maior que o tamanho da mesma.
A simpatia era sua marca no trato com as pessoas que iam nos visitar. Jogava todo o seu charme e exigia que lhes fizessem muitos carinhos. Apenas a dona Rosa, a faxineira, não concordava com isto, pois toda manhã de quinta, quando ela chegava, lá ia ele refestelar-se com suas carícias e nunca se esquecia de agradecer com um intenso xixi no seu chinelo.
Não fazia distinção com qualquer um que chegasse, ele sempre demonstrava sua alegria com saltos, pulos, o que começou a causar algum transtorno, pois com o passar dos meses o seu porte já fazia jus a sua linhagem. Quem nunca duvidou disto foi o seo Luís, nosso vizinho, apreciador contumaz de uma cachaça. Certa vez, numa tarde, sozinho em sua casa, de copo na mão, imaginou barulhos estranhos ao lado e não teve dúvidas em pular o nosso muro para ver o que acontecia. E lá estava o Tichuco pronto para receber o seu carinho. Nem preciso dizer que foi necessária uma operação de resgate para tirá-lo de lá.
Dizem que os animais tem certa sintonia com Deus. Não sei ao certo, mas num sábado, madrugada ainda e nos preparávamos para viajar à distante Marília. No dia anterior conversara com minha mãe sobre o estado de saúde de minha avó, internada durante a semana. Na saída, o seu comportamento totalmente diferente me causou estranheza. Primeiro escapou do seu cativeiro, pulou a janela do velho fusca e não queria arredar pé do banco dianteiro. Depois, após a nossa saída, passou a uivar por mais de hora. Ao chegar ao destino telefonei em casa para saber noticias e pude perceber o motivo de tanta agitação.
A chegada da primeira filha e as dimensões opostas da casa e dele fizeram com que transferíssemos a sua morada para a chácara do sogro. Lá ambos fizeram uma ótima parceria, todo dia os dois se encontravam e passavam o dia fazendo companhia um ao outro, isto durante vários anos. Certa vez porém o cachorro sumiu. Desespero total, lágrimas, romaria por toda a cidade, conversas na região, promessas para São Longuinho, novenas para Santa Edwiges e nada do Tichuco.
Vizinho da chácara morava o saudoso Petrelli. Ele prometeu ao seo Herculano, meu sogro, que pediria aos colegas da rádio para divulgarem o acontecido em seus programas. Numa certa manhã, bem cedinho, o Toninho da Engenhoca anunciou:
- Tichuuuuco! Tichuuuuco! “Vorta” pra casa Tichuco. O seu dono tá querendo “ocê” de “vorta”.
Mas ele não apareceu mais. Com certeza foi porque ele não ouviu o programa do Toninho naquele dia.
Sergio Lordello
Comentários
Beijos!!!
Lindo cão bela história.