Hoje faz onze anos que conheci a Cristina...
Ela foi indicada como pedagoga para assumir o setor de Educação para o Trânsito. Esta era a etapa mais delicada, pois poucas pessoas conheciam o tema, e teríamos que buscar exemplos nas cidades mais experientes.
Foi uma peregrinação por varias delas, estivemos em Sorocaba, Santos, Campinas e muitas mais. Cada uma delas tinha algumas características que agradavam e outras que deixavam a desejar. Na verdade estávamos inseguros para adotar um modelo para o nosso município.
Mais tarde ela me apresentou um projeto abrangente para nossa cidade sobre o tema, compreendendo um trabalho consistente dentro da rede desde o ensino fundamental (inclusive as particulares), passando pelo médio e atingindo os grupos de terceira idade. Ousado, arrojado tendo como único aval o seu entusiasmo. Resolvemos apostar na proposta e garantir todo apoio necessário. O prefeito, ainda bem, confiou.
A educação exige dedicação, paciência e principalmente continuidade. O seu retorno sempre é a longo prazo e não haveria dividendos políticos imediatos a serem colhidos. Ela convidaria as escolas com seus alunos e professores, mas a adesão deveria ser espontânea, livre, sem pressões. Na sua proposta o grande retorno previsto seria em dez anos, ou seja, nos dias atuais com a conscientização maciça dos jovens que estariam tirando a sua carteira de motorista hoje, já tendo passado pelo trânsito na condição de pedestre e ciclista.
O envolvimento dos docentes foi fantástico. Os temas eram trabalhados pelos multiplicadores mensalmente e repassados aos colegas, que os levavam aos alunos. A turma da “Melhor Idade” (doze grupos) participava de forma entusiástica. Logo no primeiro ano as estatísticas mostravam cada vez mais escolas e alunos aderindo.
As avaliações eram feitas anualmente no Concurso sobre Educação de Trânsito (Cedutran), num ginásio de esportes da cidade, envolvendo os alunos participantes, seus professores e pais. No último, mais de três mil pessoas se acotovelavam nas arquibancadas para verem as crianças serem premiadas pelas maquetes confeccionadas, músicas compostas, desenhos criados. Os transportadores escolares faziam gratuitamente as viagens de ida e volta e varias empresas patrocinavam o lanche, os cartazes, a divulgação e os prêmios.
Todo final do ano, numa escola da periferia, era marcado um encontro entre todos os professores do projeto, onde eles apresentavam as suas experiências vividas com os alunos. O sucesso era tão grande que até o presidente do Denatran veio para conhecer.
Na semana passada estive na Secretaria. Depois de rever os amigos, alguém me levou até uma sala vazia, uma mesa, uma cadeira e, apontando para alguns papéis rotos no canto do chão, disse saudoso:
- Aquilo é tudo o que restou do sonho da Cristina!!!
Sérgio Lordello
professor
Comentários