Eu estou com o saco cheio

         Sei que é época natalina, mas não é de presentes que estou falando. Na verdade é de como somos enganados por empresas que deveriam prestar um serviço adequado aos seus clientes, mas, muito pelo contrário, nos tratam como criadores de problemas para eles. E olhe que muitas delas são concessionárias de serviços públicos. Como o assunto é extenso precisarei de dois artigos para comentar alguns casos que aconteceram comigo recentemente, portanto, peço que tenham um pouco de paciência.
         Em junho passado acompanhei pela televisão, internet e outdoors uma campanha muito “clara” sobre as vantagens do uso da internet 3G, inclusive oferecendo desconto de 50% nas três primeiras mensalidades. Importante para uso e preparo de minhas aulas, adquiri o plano. Primeira fatura e nada do desconto. Segunda conta e nada do abatimento. Sabendo o que ia enfrentar pela frente, fiz uma sessão de meditação, uma aula de yoga, tomei dois calmantes sem prescrição médica, peguei um terço para orações, pedi proteção aos meus orixás e liguei para a bendita empresa.
         Depois de quarenta e sete minutos de idas e vindas, sete pessoas diferentes, após repetir umas dez vezes o meu CPF e endereço, fui ficando intimo das atendentes. Trocamos algumas receitas, discutimos política, aconselhei uma a deixar o namorado, recomendei a outra mudar de empresa e ir para a concorrente, que era melhor que esta. Acho até que demorou tanto e que passei por tantas pessoas porque elas estavam gostando dos meus palpites. Enfim chegou o veredicto: nada constava sobre descontos no meu contrato fechado por telefone. Falei em cancelar o pedido, mas lembraram- me de uma multa de três mensalidades, esta sim, com certeza, estava no contrato.
         Mas a justiça há de prevalecer, pensei. Ela foi feita para proteger os fracos e oprimidos e eu acredito nela, assim como tenho fé nas agências regulamentadoras criadas por nossos políticos. Com todos os xerox na mão, entrei na fila do PROCON na qual mais de 70% eram reclamações contra a “minha empresa”. Cartão vermelho na mão esperei pacientemente a minha vez. Mas me recomendaram ir ao Tribunal de Pequenas Causas, lugar certo e único para o meu problema. Mais uma peregrinação e nada: eu deveria constituir um advogado, mover uma ação, provavelmente esperar uns dez anos e aproveitar para pedir uma indenização por danos morais. Seria muito para mim que nunca movi ação nenhuma, mal conheço algum advogado, a não ser o Ozéas com o qual, raramente, tomo alguma cerveja na pracinha do Barzão.
         Restou-me tão somente a Anatel. Pronto, sendo uma agência regulamentadora, com sede em Brasília, a coisa seria resolvida num estalar de dedos, a concessionária tremeria na base. Estufei o peito, procurei o número do telefone no seu site e disquei compassadamente. Depois de explicar o meu problema para três diferentes pessoas veio à sentença final: eles não poderiam interferir numa relação contratual.
         Segunda-feira de manhã lá estava eu, junto com os aposentados, na porta do banco, com as duas contas anteriores na mão, uma sensação terrível de desamparo, tentando lembrar a minha senha.

Sérgio Lordello
professor

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