Spa Ziante


         Está certo que lá não tinha nada de spa, muito pelo contrário, a comida era farta, mas este era o nome do seu rancho lá na praia do Broa, fazendo trocadilho com seu sobrenome. Lugar simples, acolhedor, que os amigos sempre desfrutaram. As suas portas sempre estiveram abertas para nós, onde passamos inúmeros fins de semana, muitas aventuras e algumas gozações. O Dirceu (este era o seu nome) era uma daquelas pessoas que doava a própria roupa para ajudar o próximo. O que ele não merecia mesmo era o que seus amigos aprontaram lá.
Num final de semana convidou-nos para saborearmos uma deliciosa feijoada. Era um programa do “clube do bolinha” e você sabe, quando homem cozinha a coisa começa cedo, uns dois dias antes, dessalgando as carnes, fervendo os embutidos e haja panela para lavar. Naquela manhã, todos ainda dormindo e o “cozinheiro” a postos no seu trabalho. O cheiro começou a despertar cada um do grupo e aos poucos todos estavam em pé, resolvemos então ir até a praia enquanto o caldo apurava. No entanto o irmão do Jaques resolveu voltar mais cedo para o rancho, pois havia esquecido qualquer coisa. Quando fomos almoçar notamos que a feijoada tinha o aspecto de um virado muito denso, quase precisamos nos servir com uma espátula. O “cozinheiro” ficou desolado, nada o consolava por tamanho descuido. Mais tarde vieram a descobrir um ralador sujo com restos de mandioca que o malandro colocou na feijoada pensando não estar muito consistente o caldo.
         Outra vez, Dirceu plantou um pé de maracujá no seu quintal e passou a cuidar do mesmo com muito carinho. Caprichosa, a planta percorreu a cerca de divisa, adentrou ao terreno do vizinho e seguiu em frente. Ele, perseverante, continuou cuidando, adubando, molhando, mas nada da mesma florescer. O sonho de saborear o seu suco parecia nunca acontecer. Até que num final de semana prolongado o seu vizinho chamou-o e mostrou o pé totalmente carregado apenas do lado dele. Como era possível  somente frutificar do lado do vizinho? Ainda boquiaberto, num misto de surpresa e inveja, aproximou-se para admirar parte da sua obra e foi então que reparou: todas as frutas estavam com os cabos cuidadosamente amarrados com um fino barbante nos galhos.
        
         Foi lá que muitas vezes estive com minha família desfrutando da sua hospitalidade. Percorremos juntos o rio Jacaré-açu pelas pedras da fazenda da Cesp, navegamos no seu barco na represa do Lobo, fizemos peripécias para levar o pedalinho para a praia sem  a carreta, escalamos a cachoeira do Saltão em Brotas. Foram tempos felizes em que a amizade sempre falava mais alto.
  Hoje não tem mais jeito de pedirmos desculpas a ele. Mas acredito que lá em cima, ele deva estar agora contando tais histórias para os seus novos amigos. Apesar de ter sido uma pessoa justa e perfeita em vida, acredito que jamais me perdoou por ter esquecido uma assadeira com pedaços de frango no forno quando fechei o rancho num outro dia.
Quer saber uma coisa: eu não o faria também, de jeito nenhum.
        
Sérgio Lordello
professor

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