Aquela vez foi dificil de explicar
Bons tempos aqueles.
Namorar era algo sério. Trocar de parceiro significava para elas serem chamadas de “vassourinha” e a nós, homens, de “galinha”. O namoro começava com o pedido e cada avanço era conquistado à base de muita persistência, medo, prova de amor. Chegar lá, nem pensar.
Os pais delas sempre ficavam vigiando, impondo horários, adotando limites e os nossos também não davam moleza, pois as consequências teriam que ser assumidas. Namoro longo e final da faculdade representava um compromisso sólido. Tudo indicava uma caminhada a passos largos para o altar. Nesta situação já se permitia ao casal chegar um pouco mais tarde, viajar para casa de parentes, mas sempre na companhia da sogra ou de uma cunhadinha pentelha.
Foi quando resolvemos passar o carnaval na praia. Quatro casais acampados na Barra do Sahi, no tempo em que se chegava lá apenas pelas areias da praia. Solteiros ainda, o melhor era não comentar com ninguém, pois se os pais delas soubessem fatalmente não nos deixariam ir.
A operação saída foi estrategicamente preparada e ensaiada. Madrugada ainda e quando a dona Diva, mãe da Márcia, percebeu o golpe, o nosso carro dobrou a esquina e foi embora. Lá chegando percebemos que na praia era proibido acampar, foi quando recebemos a ajuda do jornalista Osmar Cassaroti, que nos apresentou a dona Zilóca, uma caiçara que permitiu que acampássemos no seu quintal.
O passeio poderia ser comparado a algum filme de Fellini. As barracas foram armadas sob uma frondosa jaqueira carregada; a vizinha todos os dias fazia a barba, inclusive escanhoando-a; o “xerife” do local, o mesmo que nos expulsou da praia, era um pernambucano de 1,90 m, sempre trajando paletó, chinelo de dedo e uma cartucheira na mão, mas que virou nosso amigo e, para complementar, os irmãos da dona Zilóca descobriram o nosso garrafão de cachaça, da boa (dos Kempe) e propuseram uma sociedade onde nós entravamos com a “mardita” e eles com uma farinha de mandioca feita naquele fuso de madeira do tempo dos escravos.
Foram dias de deleite que passamos nos deliciando com as histórias dos caiçaras, vendo o Osmar desenhando rótulos e mais rótulos de garrafas que ele envazava e, principalmente, felizes por não ter encontrado ninguém mais de Limeira, o que nos poderia criar dificuldades na volta à cidade.
Duas semanas mais tarde, já em Limeira, abri o jornal “A Tribuna” e me deparei na coluna do Osmar Cassaroti com a seguinte frase: “e lá encontrei acampado o filho do saudoso amigo professor Lázaro, o Sérgio junto com a Solange, o Sillman e a Márcia, o Marcelo e a Rita e o Paulo com a Mabel”.
- “Filho da mãe”.
Sérgio Lordello
professor
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