Nunca tive rancho na Cascata



       Não sei se foi denuncia, brincadeira ou sacanagem, mas recebi uma intimação para explicar porque não havia na minha relação de bens um rancho de pescaria situado no bairro rural da Cascata em Araras. Expliquei que não era meu e que só ia esporadicamente àquela propriedade de lazer, junto com amigos, raras vezes. Um dia e não era o “japonês da Federal”, mas vários agentes, com mandato de busca e apreensão foram ao local, recolhendo alguns equipamentos, documentos, possíveis vestígios de que eu seria o verdadeiro proprietário do imóvel.
       Tranquilo, fiquei esperando a emissão do Laudo de vistoria, para poder contestar as falsas hipóteses apresentadas. Semanas depois vieram os questionamentos que passo a relatar abaixo:
       - Por que o senhor mantém no guarda-roupa da suíte n°01 roupas de lazer, de trabalho, intimas, muitas delas com as iniciais SS (Sergio e Solange) bordadas? Também mantém uma caixa com roupas de cama, banho e produtos de higiene pessoal?

       - Por que encontramos na suíte n°02, também denominada na porta como “Senzala”, guardado lá um telefone celular rural, cadastrado na operadora em seu nome e em cujas contas, por nós levantadas, existem incontáveis ligações a cobrar para casa de familiares seus? Também deparamos com um aparelho pré-pago da Sky, cadastrado em seu nome cujas recargas são feitas sempre na lotérica perto de sua residência?
       - O que o senhor tem a dizer sobre o levantamento que fizemos no “Sem Parar”, em que seu automóvel, por meses à fio, passa semanalmente, ida e volta, em dias alternados, no pedágio da rodovia dos Bandeirantes em direção à Araras. Coincidentemente, nas referidas datas, no sistema de monitoramento implantado na rua em que fica a propriedade há imagens de inúmeras passagens de seu veículo?
       - O senhor não acha muita coincidência que questionados, a maioria dos moradores do local, desconhecem o seu nome mas apontam que o dono do referido rancho é um professor de Limeira, sendo que o senhor lecionou por 34 anos na cidade?
       - Que na estante da sala da propriedade encontramos inúmeras apostilas de sua autoria das matérias que lecionava, inclusive com provas corrigidas de anos anteriores? Também tem cadernos infantis de pintura em nome de suas netas. Que as contas de água, energia e IPTU são debitadas mensalmente na sua conta corrente?

       - Conclusão: tudo isso são sinais incontestes de que o senhor tem a posse do imóvel.
       Contrapus afirmando que o dono do rancho é um amigo e que eventualmente peço para levar a família, coisa rara. A presença de algumas evidências devem ter sido implantadas por inimigos meus, invejosos, mas mesmo assim, tais evidências não são provas e nem de longe demonstram ser minha tal propriedade. Sou apenas um simples professor, trabalhador, o mais honesto deles.
       “Qualquer semelhança com um caso real seria mera coincidência”.


Sérgio Lordello

Comentários

Luiz Ricardo Bastos disse…
Muito bom, mera coincidência!
MaRy disse…
Excelente! E que coincidência, hein! rsrsrs

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